Por: Eline Sandes - BSB

PCC da Faria Lima causa guerra entre governo e oposição

Presidente Lula à Rádio Itatiaia | Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Lula acusou o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) de ter ajudado a abrir caminho para a lavagem de dinheiro da maior organização criminosa do Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC), ao espalhar informações falsas sobre o Pix, em janeiro deste ano. Em entrevista à Rádio Itatiaia nesta sexta-feira (29), em Minas Gerais, Lula afirmou que seu governo irá "mostrar a cara de quem faz parte do crime organizado neste país".

Segundo Lula, a grande repercussão das fake news do deputado bolsonarista levou o governo a revogar uma norma da Receita Federal que ampliava a fiscalização sobre transações digitais, o que beneficiou diretamente o crime organizado, como ficou evidente na megaoperação liderada pela Receita Federal e pela Polícia Federal (PF) na quinta-feira (28). , na qual 42 alvos estavam localizados em cinco endereços na Faria Lima, principal centro financeiro do Brasil.

A invetigação descobriu movimentações de R$ 140 bilhões da facção por meio de fintechs - empresas que usam tecnologia para oferecer serviços financeiros de forma mais rápida, digital e barata do que os bancos tradicionais - e de 42 fundos de investimento, a maioria com escritórios na Avenida Faria Lima, centro financeiro de São Paulo.

Guerra entre governo e oposição

O episódio acirrou ainda mais o clima de animosidade entre governo e oposição: as declarações de Lula se juntam a pedidos de investigação contra Nikolas Ferreira na Procuradoria-Geral da República (PGR).

O deputado André Reimont (PT-RJ), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, enviou à PGR pedido de investigação do bolsonarista. Ele defendeu, também, a prisão preventiva do parlamentar, e mencionou que um primo de Nikolas foi preso recentemente em Uberlândia (MG) com mais de 30 quilos de maconha. 

A deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) também pediu à PGR que apure o papel do bolsonarista na proteção de interesses do PCC. De acordo com a parlamentar, o vídeo viral de Nikolas sobre o "imposto do Pix" não foi apenas Fake News, mas ajudou a favorecer organizações criminosas como o PCC.

"Seu vídeo sobre o suposto ‘imposto do Pix’ não foi apenas fake news: derrubou norma da Receita e favoreceu organizações criminosas como o PCC. É preciso investigar as verdadeiras razões que levaram a mobilização da extrema direita e se há lobby do PCC por trás dessa ação", afirmou Salabert.

Nikolas: fala de Lula é 'mentira torpe, criminosa e irresponsável'

Nikolas Ferreira reagiu às acusações do governo com ironias e negou qualquer relação com facções criminosas. Em uma publicação no X (antigo Twitter), o deputado federal afirma que Lula cometeu "a canalhice de afirmar, dolosamente e sem prova alguma contou "uma mentira torpe, criminosa e irresponsável” ao acusá-lo de contribuir com o esquema do PCC revelado na operação da PF. 

"Irei à Justiça para que responda por essa difamação assim como farei com todos os demais - estou compilando tudo", afirmou o deputado bolsonarista.

Reação da Receita Federal

Em nota divulgada na noite de quinta-feira (28), a Receita afirmou que as fintechs têm sido utilizadas para lavagem de dinheiro porque “há um vácuo regulamentar, já que elas não têm as mesmas obrigações de transparência e de fornecimento de informações a que se submetem todas as instituições financeiras do Brasil há mais de 20 anos”.

Nesta sexta-feira, a Receita Federal determinou que as fintechs estejam sujeitas às mesmas regras dos bancos, no que se refere a obrigação de fornecer informações que levem ao combate a crimes, como lavagem de dinheiro. A instrução normativa foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta sexta-feira (29). 

A decisão foi adiantada na quinta-feira (28), na esteira de três grandes operações de combate ao crime organizado (Quasar, Tank e Carbono Oculto) que identificaram um enorme esquema de lavagem de dinheiro, envolvendo de fintechs a postos de combustítvel.

Foram cumpridos mais de 400 mandados judiciais, incluindo 14 de prisão e centenas de buscas e apreensões, em pelo menos oito estados. Os grupos criminosos movimentaram, de forma ilícita, aproximadamente R$ 140 bilhões.