A exuberante magnólia amarela (Magnolia champaca), que ficava na Rua Doutor Carlos Guimarães, 2008, no Cambuí, e que foi cortada na manhã desta segunda-feira (3) com aval da Prefeitura de Campinas (SP), estava saudável. A conclusão é de engenheiros integrantes do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comdema), entre eles o engenheiro florestal e agrônomo José Hamilton de Aguirre Junior, mestre em Arborização Urbana, que realizou exames no tronco que sobrou da árvore e se baseou em diversos estudos feitos em anos anteriores, atestando a qualidade plena da madeira.
De acordo com especialistas do Comdema, a magnólia não tinha lesão aparente na base e estava saudável. “A análise da Magnólia amarela foi pautada pelo registro contido no banco de dados da ONG Movimento Resgate o Cambuí, que tem estudos realizados em 2007, 2012, 2017 e 2022. A análise completa atual da magnólia ficou prejudicada pelo fato do exemplar já ter sido cortado. Poré, em todas as análises já realizadas o indivíduo estava em bom estado. Nas imagens coletadas até fevereiro de 2025, a árvore estava em pleno vigor!", explica Aguirre Junior.
Sgundo o engenheiro, o que restou de sua base, não apresentava oco, podridão interna ou perfurações, corroborando com o aspecto saudável do exemplar. “Isso significa que o corte foi indevido e não cumpriu as exigências legais”, alerta.
A extração da magnólia de cerca de 14 metros foi executada pela empresa 4R Soluções – Corte e Podas de Árvores, após aprovação de laudo técnico da Secretaria Municipal de Serviços Públicos.
A árvore cortada, dividia a calçada com uma sibipiruna (Cenostigma pluviosum), de cerca de 15 metros e 50 anos, cujo corte estava programado para ocorrer nesta terça-feira (4), às 8h. Entretanto, com a manifestação de moradores (enfurecidos com o corte indevido da magnólia-amarela) e com a repercussão da reportagem sobre o caso, a empresa acabou não comparecendo para realizar o serviço. A magnólia amarela ficava na Rua Doutor Carlos Guimarães, esquina com a Rua Coronel Quirino, onde ainda está a sibipiruna. As duas em frente ao número 2008, no Cambuí.
Defesa da sibipiruna
Nesta quinta-feira (5), porém, por volta das 9h, o caminhão da empresa que realizaria a extração da árvore estava posicionado debaixo da copa, e os funcionários prontos para realizar a supressão da árvore. Moradores e ambientalistas também dividiam a sombra da sibipiruna desde cedo, reunidos para tentar impedir o corte que seria realizado com autorização da Prefeitura.
A Polícia Militar e a Guarda Municipal foram acionadas para tentar acalmar os ânimos dos moradores, que estavam indignados com o corte realizado na segunda-feira (3) e defendiam a permanência da sibipiruna.
A artista plástica Jaqueline F. Desbordes tentou conversar com os responsáveis da empresa, e junto à aos outros, se posicionou perto da árvore para tentar impedindo o início da ação. “Esperem mais um ou dois dias, para que o Comdema possa realizar os exames e verificar se realmente é necessário cortar esta árvore”, pedia aos funcionários da empresa. “Já basta uma árvore ter sido cortada estando saudável, vamos esperar!”, solicitou Desbordes.
Comdema solicita suspensão do corte à Prefeitura
O Comdema solicitou à Prefeitura, na manhã desta quarta-feira (5), a interrupção temporária da operação de extração da sibipiruna, para realizar novo estudo do caso e avaliação mais detalhada sobre as reais condições da árvore. O órgão quer analisar também o laudo técnico apresentado pela Prefeitura que autoriza a supressão da sibipiruna, depois de constatar que a magnólia-amarela não precisaria ter sido cortada pois estava saudável.
O presidente do Comdema, Tiago Fernandes Lira, disse que o órgão solicitou oficialmente a suspensão do corte até que todas as informações técnicas sejam analisadas. “Queremos transparência e rigor técnico antes de qualquer supressão”, reforçou.
Apesar do pedido do Comdema para suspensão temporária do corte, a Secretaria de Serviços Públicos negou o requerimento. Porém, a pressão dos moradores, ambientalistas juntamente com a solicitação do Comdema de interrupção do serviço resultaram na decisão de suspender a extração naquele dia. A empresa alertou, porém, que o corte da árvore deverá ser retomado em um ou dois dias.
Tomografia
No início da tarde desta quarta-feira (5), foi realizada na sibipiruna uma tomografia de impulso sônico e resistografia, técnicas capazes de diagnosticar a saúde da árvore. O exame foi realizado a pedido do Comdema e conduzido pelo engenheiro José Hamilton de Aguirre Junior, do Comdema, utilizando uma “metodologia segura e conclusiva, pelo alto grau de confiabilidade”, explicou.
Os exames constataram que 24% da base do tronco estava comprometida. De acordo com Aguirre Júnior, é recomendada a extração quando o comprometimento chega a 30%. O Conselho fará a avaliação das diversas situações conjuntas da árvore e fará um laudo recomendando, ou não, a extração.
Os dados das análises realizadas hoje (5) serão incorporados à resolução que está sendo elaborada pelo Comdema. O presidente do conselho, Tiago Fernandes Lira, informou que a Câmara Técnica de Arborização Urbana já produziu um parecer com diversos apontamentos sobre o caso. “Queremos garantir que não há risco efetivo e, se possível, poupar as árvores”, afirmou.
De acordo com o engenheiro José Hamilton de Aguirre Junior, a tomografia de impulso sônico e resistografia para avaliar o estado interno da árvore foi realizada conforme as normas da ABNT 16246, níveis I, II e III.
No nível III, são empregados equipamentos como o tomógrafo de impulso (que gera imagens semelhantes às tomografias humanas) e o resistógrafo, que detecta perda de resistência e cavidades internas na madeira. Ambos fornecem dados que permitem avaliar a saúde estrutural da árvore, em áreas que o olhar humano não alcança.
Além das análises técnicas, o laudo final também considerará o impacto no fluxo de veículos e pedestres para definir a recomendação conclusiva.
E agora?
De acordo com Aguirre Junior, o Comdema vai cobrar dos responsáveis a organização para que seja feita a reposição de alguns exemplares arbóreos no local, em plantio comunitário, tendo em vista a disposição positiva da proprietária” (referindo-se a dona do estabelecimento que será aberto em breve no local).
Podar é cuidar
A advogada aposentada Maria Rita Amorim, moradora da região do Cambuí, expressou sua preocupação com o corte de árvores antigas, defendendo um tratamento mais inteligente e cuidadoso por parte do poder público.
"Vai fazer falta, muito. Não só para as pessoas, mas para o meio ambiente em si, os animais, as aves," afirmou Maria Rita, destacando a importância ecológica desses exemplares como "lugar de sombra, de fazer ninho".
A crítica se concentra na opção pela retirada, em vez do tratamento e da manutenção. "As árvores antigas, elas têm que ser cuidadas e não retiradas, extirpadas do meio ambiente", disse.
Maria Rita Amorim defende que uma poda correta evitaria problemas como a queda em épocas de chuvas. Ela mencionou que o custo do corte poderia ser revertido em tratamento: "Se a prefeitura, em vez de gastar cortando, gastasse arrumando, pra curar a árvore, para curar, lógico".
A advogada ainda citou o apoio de profissionais da área, reforçando sua visão. "Eu tenho amigos que são engenheiros agrônomos, moram também no Cambuí, e eles colocam também a opinião dele de como foi criminosa essa 'poda'", concluiu.