Por: Moara Semeghini

Prefeitura autoriza corte de 2 árvores que, segundo especialistas, estão saudáveis

Ao fundo, uma magnólia-amarela que foi cortada nesta segunda-feira (3). À frente, uma sibipiruna que está com o corte marcado para esta terça (4) | Foto: Moara Semeghin/Correio da Manhã

A Prefeitura de Campinas autorizou o corte de duas árvores entre as ruas Coronel Quirino e Doutor Carlos Guimarães, no Cambuí. Uma delas, uma exuberante magnólia-amarela (Magnolia champaca) de cerca de 14 metros, foi ao chão na manhã desta segunda-feira (3), apesar de apresentar folhas firmes e tronco íntegro. A outra, uma sibipiruna (Cenostigma pluviosum) de 15 metros e 50 anos, localizada ao lado de onde ficava a magnólia-amarela, na rua Coronel Quirino, 2008, será cortada nesta terça-feira (4), às 8h.

De acordo com especialistas do Comdema (Conselho Municipal do Meio Ambiente) os dois exemplares estão saudáveis e não deveriam ser cortados. Já a Secretaria de Serviços Públicos informou, em nota, que as árvores "estão condenadas". Integrantes das ONG Movimento Resgate o Cambuí, moradores do bairro e ambientalistas estão organizando uma manifestação no local, às 8h, horário programado para o corte acontecer, para tentar impedir o corte da árvore.

O engenheiro florestal e agrônomo José Hamilton, integrante do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Comdema) e mestre em Arborização Urbana, afirmou que a árvore que foi cortada e a outra, programada para ser cortada nesta terça-feira (4), estavam saudáveis. Segundo ele, as duas árvores vinham sendo acompanhadas pela ONG Movimento Resgate o Cambuí desde 2007, em levantamentos realizados nos anos de 2007, 2012, 2017 e 2022.

“O último levantamento, de 2022, constatou que os exemplares estavam saudáveis, necessitando apenas da ampliação dos canteiros e áreas permeáveis. Após a supressão da magnólia, verificamos que ela estava intacta, conforme os dados da ONG”, explicou.

Sobre a sibipiruna, que ainda está viva, José Hamilton informou que o grupo aguarda o laudo da engenheira agrônoma responsável para entender a motivação do corte. “Trata-se de um exemplar histórico, com mais de 50 anos, de grande beleza e vigor de copa. Possui apenas uma leve lesão na base, que poderia ser tratada com antifúngicos, como a calda bordalesa, e não justificaria sua supressão”, completou.

Macaque in the trees
Árvore da espécie magnólia-amarela que foi cortada nesta segunda-feira (3) | Foto: Daniel Franco

Funcionários da empresa 4R Soluções – Corte e Podas de Árvores, nesta terça-feira (4) mostraram à reportagem a autorização para os cortes, assinada pelo Departamento de Parques e Jardins, da Secretaria de Serviços Públicos da Prefeitura (foto). As árvores ficam em frente a um imóvel onde, segundo os trabalhadores, funcionará em breve um comércio — possivelmente uma farmácia. Um dos funcionários, que preferiu não se identificar, afirmou que o corte foi uma exigência do proprietário do imóvel, responsável por solicitar à Prefeitura a autorização para a supressão.

Tiago Fernandes Lira, presidente do Comdema (Conselho Municipal do Meio Ambiente) informou que encaminhou o ocorrido para análise da Câmara Técnica de Arborização Urbana para que avalie se o corte foi adequado, se houve irregularidades e se havia motivo real para derrubar os exemplares.

A presidente da ONG Movimento Resgate o Cambuí, Tereza Penteado, é uma das organizadoras do protesto: “Estamos juntando pessoas para irem lá amanhã às 8h. Vou levar megafone e filmadora”, disse ela.

Corte do ipê-roxo

O corte de árvores saudáveis (e até protegidas e imunes ao corte por lei) está se tornando rotina em Campinas, particularmente no bairro Cambuí. Na última quinta-feira (30), desta vez sem a autorização da Prefeitura. O Correio da Manhã entrou em contato, por e-mail, com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, e não obteve resposta. A reportagem também mandou e-mail diretamente para o Corpo de Bombeiros, que respondeu: “Informamos que a atuação do Corpo de Bombeiros no corte ou manejo de árvores em situação de risco iminente está amparada pela legislação vigente, em especial pelo Decreto Estadual nº 56.819/2011, que regulamenta as atividades do Corpo de Bombeiros, e pelo Código de Defesa Civil, que respalda ações imediatas para eliminação de riscos à vida, ao patrimônio e ao meio ambiente”. O decreto citado, porém, diz respeito ao regulamento dispõe sobre as medidas de segurança contra incêndio nas edificações e áreas de risco, e não ao corte de árvores. O caso foi encaminhado para a 12ª Promotoria de Justiça de Campinas, que atua na defesa e proteção do meio ambiente.

Prefeitura

O Departamento de Parques e Jardins autorizou a supressão das duas árvores porque estão condenadas. A sibipiruna está com cupim e a magnólia está com broca, ambas com risco de queda.
A Prefeitura de Campinas trabalha regularmente com a arborização urbana. A cidade plantou, desde 2021 até o momento, mais de 633,3 mil mudas de árvores, provenientes do próprio Viveiro Municipal e por meio de compensações ambientais.

O trabalho de arborização inclui ações preventivas e de acompanhamento das espécies. As árvores da cidade estão sendo mapeadas e cadastradas, por meio de um inventário no qual já constam 85 mil árvores registradas.