Pela primeira vez, a Prefeitura de Campinas (SP) está com 11 mulheres à frente do Poder Executivo. A nona secretária tomou posse esta semana. Trata-se da professora Patrícia Adolf Lutz, que assumiu a pasta da Educação. Além disso, o comando da Guarda Municipal também está nas mãos de uma mulher, assim como o da Ceasa Campinas.
O recorde de mulheres à frente do governo "é um avanço para a cidade", de acordo com a advogada Priscilla Bittar, ativista e co-fundadora do grupo Mulheres pela Justiça, que orienta e acolhe vítimas de violência doméstica. O coletivo foi formado em 2017 e é composto advogadas, juízas e desembargadoras.
“É fundamental que mulheres sejam colocadas em cargos de liderança para que a gente possa ter o nosso protagonismo, que, durante anos, foi destruído ou rechaçado por conta de uma sociedade que vem de um machismo estrutural”, pontua.
A reserva de Priscilla, entretanto, se dá em relação ao número de representantes femininas. “São poucas. Mas, fico feliz, sim, com esse avanço. De passo em passo, a gente consegue conquistar o nosso lugar. Eu acredito que a democracia só vai ser inteira na hora que tivermos pelo menos 50% de mulheres em cargos eleitos”, afirma.
Políticas Públicas
Para a professora de filosofia, sociologia e história, Milena de Paula Moreira, entusiasta do feminismo, a questão da presença das mulheres na prefeitura de Campinas é uma vitória. “É um avanço para a democratização porque, quando a gente fala de democracia, a gente fala também da presença de pessoas que normalmente não são representadas pela política", como mulheres, negros e a população lgbtqiapn+.
A pensadora destaca que, além da representatividade em si, “as mulheres também contribuem para as políticas públicas mais sensíveis para sanar essas desigualdades”.
Para a vereadora Mariana Conti (PSOL-SP), o aumento da participação de mulheres na política é uma conquista. “Foram anos e anos de luta contra o apagamento das mulheres nos espaços de decisão política, e anos e anos de luta para que a gente desnaturalizasse o fato das mulheres não estarem nesses espaços. E essa conquista de espaço é fruto do movimento feminista”.
Ao mesmo tempo, a parlamentar acrescenta: “não basta que as mulheres estejam representadas no espaço da política, se essa política não resulta na mudança real da vida das mulheres. Que a política seja de ampliação de direitos, de combate à violência, de respeito, de igualdade de gênero e de combate ao machismo”.
Nesse sentido, para Conti, ainda há que se caminhar em Campinas. “Aqui, o governo (do prefeito) Dário Saadi (Republicanos) ataca direitos, fecha escolas, não investe o necessário no combate à violência, beneficia a especulação imobiliária, o que aumenta o custo dos aluguéis, aumenta o custo de vida, resultando na precarização da vida de todos, e, sobretudo, na das mulheres”.
O outro lado
A respeito das considerações da vereadora, a prefeitura afirma que “tem trabalhado para ampliar cada vez mais as políticas públicas voltadas para as mulheres no município”.
Cita, como exemplos, a criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres e a inauguração do Centro de Referência de Assistência Integral à Mulher (Craim), que, desde 1º de setembro, realizou 9,5 mil atendimentos.
Ainda de acordo com a administração municipal, foram entregues “16 creches do Programa Espaço do Amanhã, com a oferta de mais 5 mil vagas na rede pública municipal, atualmente, maior que a demanda".
Menciona a Casa da Mulher Campineira, que presta apoio psicossocial, orientação jurídica e auxílio na busca por emprego e moradia; os abrigos Sara-M e Santa Clara, espaços para mulheres vítimas de violência ou em situação de rua; e o Centro Especializado em Acolhimento e Escuta no Enfrentamento à Violência de Gênero (Ceamo).
Cita também o Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres, órgão consultivo e deliberativo que propõe e fiscaliza políticas públicas; o Grupo de Mulheres Empreendedoras, que promove a emancipação econômica das que estão em situação de vulnerabilidade; e o Abrigo Amigo, que oferece companhia virtual e acionamentos de serviços policiais para mulheres em pontos de ônibus.