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O paradoxo da maternidade

Ao reviver a maternidade tardiamente, Claudia Raia resolveu produzir "Mães, o Musical", resultando num espetáculo de alta qualidade. Sue Fabisch assina texto, letra e música, repletos de inventividade e bom humor, com versão brasileira de Anna Toledo. Quatro amigas se encontram num chá de bebê para compartilharem as agruras e felicidades de serem progenitoras. A narrativa é sustentada por uma carpintaria, pela qual somos fisgados até o fim, onde Dani, grávida do primeiro filho, recebe conselhos de suas amigas, que já possuem experiências em lidar com filhos, trabalho, família, divórcio, emocionando e divertindo a audiência sem esforço.

Destaca-se a condução primorosa de Jarbas Homem de Mello, injetando vigor e dinamismo em marcas bem desenhadas. Experiente em musicais, abarca todo o espaço cênico engenhosamente. O diretor estabelece uma homogeneidade fabulosa no talento de suas intérpretes, em que o jogo desagua num timing categórico. Valoriza a dramaturgia em seu processo criativo, pelo qual o espetáculo é recheado de beleza e teatralidade.

As cantrizes instalam-se numa química radiante. Jéssica Ellen encontra delicadeza na insegurança de sua Dani, que está prestes para dar à luz e brilha intensamente quando canta "A vez da vovó". Maria Bia revela bom domínio cênico, descompensando nos lugares exatos com sua workaholic Júlia, adquirindo mais luminosidade ao interpretar "Rainha do atacadão". Ao cantarem "A criançada foi dormir" abrilhantam-se em conjunto. Enquanto isso, Giovana Zotti sustenta com filigranas sua Márcia dramática e comicamente, num carisma espantoso, agregando à cena magia ao ecoar "Mãe do Gabriel", além de ótima desenvoltura corporal. Já Helga Nemetik, encanta-nos com seu timbre encorpado, criando uma Tina exuberante, referta de ferramentas, sobrecarregando nossos corações ao entoar "Cada 15 dias", com seus melismas virtuosos. Todas muito bem orquestradas por uma direção musical arrojada de Guilherme Terra e coreografias divertidas de Sabrina Mirabelli.

Natália Lana determina uma cenografia colorida, com ambientes múltiplos, ressaltando a espacialidade. Bruno Oliveira veste o elenco com muito bom gosto, num destaque para o figurino todo branco rabiscado ao final. A luz de Wagner Freire é intensa, com moving lights auxiliando à dinâmica dos números musicais, favorecendo a delicadeza nos momentos certos, como a invasão reluzente no vitrô à esquerda do palco.

"Mães, o Musical" é comédia tomada por afeto e coloca-nos em ponderações de como nossas mães doam-se por nós, abrindo mão da própria existência, mesmo diante das chantagens emocionais, mas num amor infinito, do qual não podemos abrir mão e que devemos reverenciá-lo até o último afago.

SERVIÇO

MÃES, O MUSICAL

Teatro das Artes (Shopping da Gávea - Rua Marquês de São Vicente, 52 - Loja 264)

Até 14/12, sexta e sábado (20h) e domingo (18h)

Ingresso entre R$ 25 e R$ 190