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Assim como nós, os humanos

Em 'Como Nos Livros', as traças se comportam como humanos quando se vêem diante da morte | Foto: Roberto Carneiro/Divulgação

Novo espetáculo do Bando de Palhaços, 'Como Nos Livros' celebra 15 anos de grupo com uma fábula adulta que provoca reflexões sobre a natureza de nossa própria espécie

"E se as traças, ao devorarem livros, também absorvessem a linguagem e a complexidade humana?" É com essa instigante provocação que o Bando de Palhaços, celebrando 15 anos de trajetória, apresenta seu novo espetáculo adulto, "Como nos Livros". A montagem, que marca o segundo trabalho do grupo voltado para o público adulto após "Adeus, Ternura", de Rafael Souza-Ribeiro e direção de Rodrigo Portella em 2022, convida a uma reflexão profunda e bem-humorada sobre a condição humana, sob a direção de André Paes Leme e texto de Cecilia Ripoll.

Em cena, o público é transportado para um abafado apartamento em Copacabana, onde cinco traças vivem confinadas, cada uma com sua morada literária peculiar: "O Cortiço", "O Capital", o "Código Penal" e até um cartão postal antigo. A aparente harmonia é quebrada quando uma delas transgride uma regra fundamental de convivência, devorando o miolo de um livro ainda em uso, pertencente ao dono da casa. O caos se instala, e as traças se veem com apenas 24 horas para elaborar um plano de salvação antes de serem exterminadas. Entre delírios, citações e planos improváveis, essas criaturas tentam escapar da morte certa, enquanto ironicamente repetem os mesmos padrões humanos que tanto criticam. A dramaturga Cecilia Ripoll, que já foi indicada ao Prêmio Shell RJ por duas vezes como autora, explica a essência dessa metáfora central ao espetáculo: "A traça é usada para traçar uma metáfora com o humano, que, como ela, carrega a contradição de destruir e corroer sua própria moradia."

A dramaturgia escrita especialmente para o grupo, nasceu de um processo coletivo com o elenco. A autora já havia colaborado com o grupo na peça online "Na Borda do Mundo", indicada ao Prêmio APTR 2021. Inspirada na experiência cômica de cada integrante, Ripoll criou personagens ricos em personalidade, contradições e excentricidades, que prometem cativar a plateia. "Nós, do Bando, gostamos da possibilidade de nos lançarmos em aventuras investigativas diferentes a cada espetáculo, do risco de novas descobertas. A dramaturgia da Cecilia propõe um mergulho na palavra, de uma maneira que ainda não tínhamos feito juntos", conta Ana Carolina Sauwen, uma das fundadoras do grupo.

O espetáculo reforça a maturidade artística do grupo em seus 15 anos, consolidando sua pesquisa continuada, que integra palhaçaria e teatro em projetos que incluem formação artística através de oficinas.

A direção de André Paes Leme marca seu reencontro com a linguagem cômica. "O espetáculo traz uma discussão muito rica, de forma inusitada: são insetos que discutem a humanidade. Isso é muito original. Estou muito feliz com a profundidade crítica e a originalidade do projeto. Assumir a presença do público é importante para que não se faça uma leitura realista da peça. Assim, o aspecto crítico fica mais forte e o espetáculo se torna mais leve e vibrante."

O elenco, composto por Ana Carolina Sauwen, Filipe Codeço, Mariana Fausto, Pablo Aguilar e o ator convidado Fabrício Neri explora o limite entre o humano e o inseto, entre a palavra e o instinto, entre o delírio e a razão, convidando o público a uma experiência teatral que nos leva a enxergar a nós mesmos sob uma nova perspectiva.

SERVIÇO

COMO NOS LIVROS

Teatro de Arena do Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160)

Até 7/12, de quinta a sábado (20h) e domingo (18h)

Ingressos: R$ 30, R$ 15 (meia) e R$ 10 (associado Sesc)

Horário: quinta a sábado, às 20h; domingo, às 18h