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Congelados por traumas

'Alaska' é a primeira montagem de Cindy Lou Johnson no Brasil | Foto: Andre Nicolau/Divulgação

Nesta segunda-feira (17) o Teatro Gláucio Gill recebe apresentação única de "Alaska", uma investigação poética sobre trauma, isolamento e a possibilidade remota de cura através do encontro forçado. Escrita pela dramaturga estadunidense Cindy Lou Johnson, a peça ganha montagem com direção de Rodrigo Pandolfo, que também protagoniza o espetáculo ao lado de Louise D'Tuani. O trabalho integra o Festival Todos no TGG - 30 Espetáculos em 30 dias, que celebra os 60 anos do teatro em Copacabana.

A trama se passa no estado do Alaska durante uma nevasca. Henry (Pandolfo) é figura solitária surpreendida por batida insistente à porta de sua cabana. Quem chega é Rosannah (D'Tuani), jovem vestida de noiva que após dirigir ininterruptamente por semanas entra e se instala ali. Ambos estão feridos pela vida, fugindo de relacionamentos, compromissos e responsabilidades. Presos no mesmo espaço-tempo, longe de tudo e todos, são obrigados a conviver com suas verdades.

Segundo Pandolfo, a peça investiga cura. "Dois personagens que estão congelados pelos seus traumas a ponto de procurarem alguma forma de isolamento que os prive de viver em sociedade", explica o diretor. "Neste lugar solitário e gelado, eles vão se desvendando e se aproximando. Eles se afetam, numa relação de atração e repulsa." A relação do casal se passa em tempo-espaço indefinido, funcionando como metáfora para esse encontro profundo que pode resultar em salvação mútua.

O cenário exibe chão coberto de neve, tronco de madeira, fogão e baú — espaço fumacento, quase onírico, onde Henry e Rosannah acessam memórias, lembranças e confusões sobre seus traumas. "No texto há referências sobre um apagão branco, sobre a queda da neve, sobre um céu da mesma cor que o chão, dando a impressão de que as personagens voam, mas que ao mesmo tempo são atingidas pela gravidade", comenta Pandolfo. "Esse apagão branco pode ser lido como a paralisação em que eles se encontram."

Esta é a primeira experiência dirigindo e atuando. "Está sendo ótima, mas também desafiadora — para ter essa visão do todo, me envolvo em dois tipos de ensaio — o ensaio para direção e outro para atuação", connta. Sua trajetória inclui indicações ao APTR, Prêmio Ítalo Rossi e participações em produções dirigidas por João Fonseca e Aderbal Freire Filho.

SERVIÇO

ALASKA

Teatro Gláucio Gill (Praça Cardeal Arcoverde, s/nº - Copacabana)

17/11, às 20h | R$ 40 e R$ 20 (meia)