Apesar de não reunir estrutura comediográfica consistente, "Toc Toc" é um sucesso no Brasil e fora dele, caindo nas graças do público. A plateia encanta-se pelas situações criadas pelo francês Laurent Baffie, com adaptação de Alexandre Reinecke, que apara a dramaturgia, já que a comédia trafega numa escrita retilínea. Seis personagens com transtorno obsessivo compulsivo (Toc) se encontram num consultório iluminando a disfunção psicológica, pela qual inúmeras pessoas são afetadas pelo mundo. Amparado por humor rasgado, o texto alcança um viés reflexivo e gera empatia entre aqueles seres desorientados.
A direção de Reinecke acerta em explorar e amplificar àquelas situações inusitadas propostas por Baffie, desenhando com dinâmica oportuna a disposição do elenco, além de harmonizar seus atores, fixando o timing certo para desaguar o riso.
Os atores instauram uma contracena muito bem apropriada, pela qual a audiência se deleita. Daniel Dantas, transportando suas experiências com Shakespeare, Tchecov, Albee, Pinter, entre outros, edifica seu Fred e a síndrome de Tourette com sapiência, revelando tiques convincentes e o patético, nos quais a personagem se afunda. André Gonçalves, com primorosa dicção e performance hilariante, conduz a plateia com extrema segurança, tamanho o seu talento como comediante, além de instituir uma expressão corporal absolutamente teatral para o seu Vicente. A cena em que a personagem Maria responde que mora em Belfort Roxo e o taxista escorrega pela estante é um exemplo de como o ator brilha sem emitir uma palavra. Andréa Mattar, numa estranheza teatral, tira proveito de sua Branca, encontrando com eficiência o destempero daquela mulher obcecada por limpeza. Sara Freitas é um contentamento só, brincando com extrema seriedade a repetição de palavras. Quando sua Lili precisa reiterar uma ideia, o palco se enche de graça/magia pela concentração e destreza da atriz. Claudia Ohana esboça sua Maria um pouco menos teatral, talvez pelo fato de ser religiosa, mas a montagem organiza um alicerce expandido e jocoso. E Miguel Menezzes, sem força cênica e pouca emissão vocal, não define seu Bob, numa contramão da grande maioria.
O trânsito da encenação é facilitado pelo diretor e o produtor Sandro Chaim, que erguem um cenário alaranjado, de bom gosto, com quadro, janela e porta numa alusão as cores do arco-íris, em que o figurino de Danilo Barbieri dialoga na mesma diapasão, imbuídos no contexto. Renata Rainbow invade a cena com um clima azulado nas passagens de cena e descidas de climas, além de atenuar sua luz, auxiliando no alerta de que precisamos cuidar dos nossos distúrbios, muito além de nos divertirmos com eles.
SERVIÇO
TOC TOC
Teatro dos 4 (Shopping da Gávea -Rua Marquês de São Vicente, 52)
Até 18/1, às sextas e sábados (20h) e domingos (19h)
Ingressos: R$ 140 e R$ 70 (meia)