Teatro histórico de Copacabana celebra seis décadas com maratona que recebe 30 espetáculos em 30 dias numa celebração à diversidade da cena teatral contemporânea com ingressos populares a R$ 20 e R$ 10 (meia)
O Teatro Gláucio Gill, tradicional espaço cultural de Copacabana, completa 60 anos de atividade com uma programação que revela um amplo panorama da produção teatral brasileira. Desta segunda-feira (3) até 2 de dezembro, sempre às 20h, o "Festival Todos no TGG - 30 Espetáculos em 30 dias" apresenta, a preços populares - R$ 20 e R4 10 (meia) -, montagens que atravessam diferentes gerações, estéticas e temáticas.
A celebração marca também um momento de renovação do espaço. Sob gestão do artista Rafael Raposo desde a retomada pós-reforma, o teatro atingiu 93% de ocupação da sala, resultado que o gestor atribui a uma política de programação voltada para montagens estreantes e linguagens que dialogam com questões contemporâneas. "Dei prioridade aos espetáculos que estavam estreando, montagens com linguagens, temas atuais, que dialogam entre si, potencializando um ao outro", afirma Raposo, que também investiu na recuperação física do espaço.
A abertura do festival fica a cargo de Zezé Motta, que também celebra 60 anos de carreira. A atriz apresenta um solo musical no qual revisita sua trajetória artística através de canções, depoimentos e memórias.
A programação inclui nomes consolidados como Othon Bastos, que apresenta "Não Me Entrego, Não", solo premiado em que o ator revisita sua vida e carreira. Clarice Niskier traz "Alma Imoral", reflexão filosófica e bem-humorada sobre ética e liberdade. Mateus Solano protagoniza "O Figurante", comédia sobre um homem que precisa decidir se assume o protagonismo da própria vida. Bruce Gomlevsky interpreta Raul Seixas no musical que recria uma noite insone do músico baiano. Silvero Pereira apresenta "Pequeno Monstro", mergulho em recordações de uma infância queer marcada por dores e descobertas.
Entre as atrizes, destaque para Kelzy Ecard em "Meu Caro Amigo", espetáculo musical que revisita a história do Brasil através da vida de uma professora apaixonada por Chico Buarque, e Vilma Melo em "Mãe de Santo", solo sobre espiritualidade e resistência nas tradições de terreiro. Louise D'Tuani e Rodrigo Pandolfo dividem o palco em "Alaska", sobre dois desconhecidos isolados no frio extremo. Márcio Vito apresenta "Claustrofobia", investigação sobre o medo de ficar preso física ou emocionalmente.
O festival também reúne coletivos fundamentais do teatro brasileiro contemporâneo. A Armazém Companhia de Teatro apresenta "Neva", sobre atores enclausurados que questionam a função da arte em tempos de violência. A Cia dos Atores traz "Conselho de Classe", que expõe conflitos do cotidiano escolar quando a sobrevivência da educação está em jogo. A Cia Atores de Laura apresenta "A Palavra que Resta", sobre um homem que encara o passado e o que nunca pôde dizer sobre amor e desejo. Aquela Cia de Teatro encena "Caranguejo Overdrive", sobre um ex-combatente que luta para não perder sua identidade em uma cidade transformada. O Complexo Negra Palavra apresenta "Pelada, a Hora da Gaymada", comédia sobre orgulho e diversidade que mistura futebol, festa e música.
A diversidade temática percorre questões urgentes da sociedade brasileira. "Macacos", com Clayton Nascimento, propõe reflexão direta sobre racismo através de discurso confessional que convoca o público ao debate. "Meu Corpo Está Aqui", criado por Julia Spadaccini, celebra histórias reais de artistas com deficiência, abordando autonomia e desejo. "Porque Não Nós", também de Spadaccini, reúne corpos negros em coro numa celebração de pertencimento e potência coletiva. "Selvagem", solo de Felipe Haiut, investiga como um jovem tenta sobreviver à violência invisível das redes sociais.
A programação também revisita momentos da história e da cultura brasileira. "Cabeça", com direção de Felipe Vidal, oferece retrato poético dos anos 1980 a partir da energia contestadora do rock nacional. "Toda Donzela Tem Um Pai Que É Uma Fera", com direção de Débora Lamm, é comédia de costumes ambientada no Rio dos anos 1950. "A Descoberta das Américas" apresenta a aventura tragicômica de um anti-herói, vivido por Julio Adrião, que testemunha a violência e a farsa da colonização. "Alma Brasileira" traça retrato afetivo da cultura nacional através de música e cena.
Montagens experimentais ampliam as linguagens presentes no festival. "Noites de Parangolé", do Teatro de Anônimo, homenageia Hélio Oiticica misturando música, corpo e arte em movimento contínuo. "Caravana Alucinada", texto de Jô Bilac com direção de Paulo de Moraes, acompanha uma trupe de artistas pelo subúrbio carioca que transforma encontros cotidianos em poesia e movimento.
Questões familiares e afetivas também atravessam a programação. "O Formigueiro", com direção de Thiago Marinho, aborda uma família que enfrenta o Alzheimer e descobre memórias que podem unir ou separar. "Órfãos", com Ernani Moraes e direção de Fernando Philbert, apresenta dois irmãos que sequestram um homem e revelam um abismo de abandono e sobrevivência. "O Legado", da Cia Teatro Íntimo, foi criado a partir da obra de Caio Fernando Abreu e investiga a escrita como abrigo para afetos e literatura.
Além do festival no palco principal, a comemoração dos 60 anos se estende ao segundo andar do teatro, que apresenta o novo "Cabaré Melanina", e à galeria, que recebe em novembro nova exposição de Nina Benchimol. A programação múltipla transforma o Gláucio Gill em espaço de convivência e circulação cultural para além dos espetáculos.
SERVIÇO
FESTIVAL TODOS NO TGG - 30 ESPETÁCULOS EM 30 DIAS
Teatro Gláucio Gill (Praça Cardeal Arcoverde, s/nº - Copacabana)
3/11 a 2/12, diariamente, sempre às 20h
Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia)
03/11 – Zezé Motta
04/11 – Não Me Entrego, Não!
05/11 – Meu Caro Amigo
06/11 – Neva
07/11 – Caravana Alucinada
08/11 – Alma Imoral
09/11 – Macacos
10/11 – Pequeno Monstro
11/11 – Alzira Power
12/11 – Conselho de Classe
13/11 – Noites de Parangolé
14/11 – A Palavra que Resta
15/11 – Raul Seixas — O Musical
16/11 – Mãe de Santo
17/11 – Alaska
18/11 – O Último Ensaio
19/11 – Caranguejo Overdrive
20/11 – Pelada, a Hora da Gaymada
21/11 – O Legado
22/11 – Cabeça
23/11 – Meu Corpo Está Aqui
24/11 – Toda Donzela Tem Um Pai Que É Uma Fera
25/11 – A Descoberta das Américas
26/11 – O Figurante
27/11 – Claustrofobia
28/11 – O Formigueiro
29/11 – Selvagem
30/11 – Órfãos
01/12 – Porque Não Nós
02/12 – Alma Brasileira