No domingo passado, debrucei meus olhos sobre páginas da larga janela "A evolução criadora", de Henri Bergson, para admirar o que é movimento vital. Em 1907, publicou-se na França essa belíssima obra e, após 57 anos, em 1964, as [traduzidas] palavras do filósofo francês foram aportadas em nossas livrarias - até hoje, muito… muito… pouco lidas.
Bergson permanece desconhecido, quem sabe, por ser abstrato, mas não creio, porque, em "Ciência da lógica: 1. a doutrina do ser", embora Hegel seja muito abstrato, propaga-se pelos corredores de História e de Sociologia que a dialética é oposição e síntese, ou seja, o movimento pensado por Hegel é verdadeiro, e o de Bergson permanece ignorado ou, se ainda muito pouco lido, fixa-se como muito mal compreendido ou nem entendido.
Diferente de Bergson, Hegel não pensa o movimento vital ou no vegetal, ou na ameba, ou no animal, afirmando o movimento como oposição entre ser e não-ser, enquanto Bergson pensa o movimento entre ser-e-não-ser, o que ele chama de duração, estando, portanto, entre dois signos contrários ou no meio deles, não havendo, pois, dualismo entre ser e não-ser. Bergson leu Platão para além de Hegel.
Em virtude desse pensamento bergsoniano, não há oposição entre ser e não-ser, muito menos síntese, dado que não há oposição entre ser e não-ser, quer dizer, se o não-ser é o ser, tal fluxo, o qual só pode ser contínuo, é movimento que acontece entre ser-e-não-ser. Entre signos desiguais, Bergon pensa o movimento vital. Esse [inter]valo, o entre, não diz respeito a Hegel, e sim, como oposição, as extremidades ser e não-ser.
O entre escapa à filosofia de Hegel, porque, embora "o não-ser" seja "o ser", não há "o ser" e não há "o não-ser", o que significa não poder identificar por haver apenas passagem, o instável, o que não pode ser nomeado, e Hegel ainda está preso à identidade, à medida.
Em 2020, o mundo experimentou a potência de phýsis, isto é, a potência do movimento vital, mas não a velocidade absoluta, e sim em um grau do tipo viral. Essa velocidade desorganizou as cidades do mundo, pois, sem poder saber "o-que-é", sem poder nomeá-lo [em razão de sua velocidade], não podia identificá-lo, porque o vírus, sendo o mesmo, sempre era outro, sem deixar de ser ele mesmo: o-não-ser-é-o-ser.
Por causa do grau de velocidade, a ciência identificou a natureza viral e encontrou o caminho para a vacina. O movimento hegeliano é falso movimento. Não há oposição... nem síntese.