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Um novo olhar para o palco: Ator, diretor e professor Cláudio Handrey é o novo crítico teatral do Correio da Manhã

Cláudio Handrey: 'Brecht define bem o teatro em que acredito, onde o público deixa se ser expectador passivo' | Foto: Divulgação

Com a chegada de um nome de peso ao time de colaboradores do Correio da Manhã, é a cena teatral carioca que sai ganhando. A partir desta semana, o #CM2 terá Cláudio Handrey como seu novo crítico teatral. Com trajetória no teatro, cinema e televisão, o ator, diretor e preofessor guiará nossos leitores pelas nuances dos diversos espetáculos encenados nos palcos da cidade.

Para Handrey, o teatro é um espelho amplificado da condição humana. "O teatro, pra mim, é uma lente de aumento, em que tudo deve ser grandiloquente, para que possamos olhar e detectar mais atentamente nossas fraquezas, doenças, idiossincrasias, conflitos em geral", explica. Essa visão se alinha à de Bertolt Brecht, onde o público é convidado a uma participação ativa e reflexiva. "A partir do bom teatro, do bom entendimento de suas metáforas em linguagens diversificadas, consigamos refletir e construir uma análise crítica de nós mesmos e da sociedade em geral. Brecht define bem o teatro que acredito, onde o público deixa de ser um espectador passivo para se tornar ativo, analisando criteriosamente as situações reveladas no espetáculo teatral", detalha.

Uma de suas paixões mais marcantes é a obra de Nelson Rodrigues. "Nelson me chamou atenção, desde muito jovem. Me deparei com as 17 peças e suas inúmeras crônicas e contos ainda na escola de teatro. Devorei o máximo daquele gênio e fui descobrindo, com extrema felicidade, que estava diante do maior dramaturgo brasileiro", recorda. Essa admiração culminou em seu TCC sobre o humor na obra rodrigueana.

Há uma década, ele ministra oficinas sobre o autor. "É impressionante como toda aquela escrita peculiar do dramaturgo vai transformando jovens atores, que vão - através daquela carpintaria exemplar - encontrando teatralidade. Tensão, ritmo, frases que terminam em preposições, personagens adoecidos, em que o escritor transpõe a tragédia grega para a sociedade carioca do século XX", descreve.

Na visão de Handrey, o humor e o patético na tragédia rodrigueana são o que o mantêm apaixonado pelo universo do autor, que ele coloca na mesma galeria de dramaturgos como William Shakespeare, August Strindberg, Luigi Pirandello e Eugene O'Neill. "O seu teatro 'desagradável' continua atual porque suas palavras levam ao choque, à censura, à crítica, às vaias, ao repúdio social, ao exibirem olhar irônico e satírico sobre uma sociedade em transformação", conclui.

Handrey trilhou seus primeiros passos nas artes cênicas tendo Antunes Filho como diretor na Cia Lanavevá de Teatro. Como diretor, destacou-se com as premiadas "Draculinha" e "Porcos com Asas". Montou adaptações de Nelson Rodrigues como "Perdoa-me Por Me Traíres" e "A Vida Como Ela É", e sucessos como "Surto", que ficou nove anos em cartaz.

Nos palcos, atuou em montagens como "A Megera Domada" sob a direção de Miguel Falabella, e "Tio Vânia". No audiovisual, participou de novelas como "Anjo Mau" (Globo) e "Vidas em Jogo" (Record), além de séries para a Netflix. No cinema, atuou em nove longas, incluindo "O Enfermeiro" com Paulo Autran.

A cada sexta-feira, em nossa edição especial de fim de semana, Cláudio Handrey brindará os leitores do Correio com sua análise sobre o que de mais relevante encontarmos na cena teatral da cidade, uma cena rica e diversa como a arte deve ser. Viva o teatro!