O manguezal como útero do mundo. É dessa imagem poética e visceral que nasce "Carangueja", solo teatral idealizado, escrito e interpretado por Tereza Seiblitz, atualmente no ar como Doralice na novela "Volta Por Cima" (TV Globo). A peça, codirigida pela atriz e pela piauiense Fernanda Silva, utiliza esse bioma de transição entre ambientes terrestre, fluvial e marinho como metáfora para abordar a força criadora vital da Terra e questionar noções sobre feminino, maternidade e responsabilidade ambiental.
A conexão de Tereza com o manguezal remonta a 1993, durante as gravações de "Renascer", quando interpretou a marcante Joaninha. "Quando estive num manguezal pela primeira vez, na Bahia, andei e afundei na lama por muitas horas. Tive a maravilhosa sensação de sentir a pulsação da fertilidade daquele lugar e pensei: 'isso aqui é o útero do mundo'", relembra. Essa experiência sensorial, onde observou filhotes de caranguejo brilhando ao sol matinal, plantou a semente criativa que germinaria décadas depois.
O texto nasceu em 2015, durante a graduação em Letras da atriz na PUC-Rio, influenciado por leituras teóricas e literárias. Tereza se questionava sobre como seria "Samuel Beckett escrevendo sob o sol do Equador e as marés do Piauí" ou "a busca pelo fim da angústia de Sarah Kane se estivesse grávida e morasse nos trópicos".
A montagem propõe uma experiência sensorial em que tecidos, madeira, metais e argila são ressignificados pela intérprete. O público acompanha uma mulher atravessada por múltiplas vozes - desde locuções de aeroporto até receitas de moqueca -, que desenham pistas de uma metamorfose em curso. A protagonista vive no limiar entre mulher e carangueja, questionando antropocentrismo e desigualdades sociais através de humor e poesia.
SERVIÇO
CARANGUEJA
Teatro Poeirinha (Rua São João Batista, 104, Botafogo)
Até 27/8, terças e quartas (20h) | R$ 80 e R$ 40 (meia)
