Bruce Gomlevsky realiza um sonho antigo ao interpretar e dirigir simultaneamente uma das mais complexas criações de William Shakespeare. O ator estreia nesta sexta-feira (15) uma nova montagem de "Hamlet" no Teatro III do Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, utilizando tradução inédita do poeta e acadêmico Geraldo Carneiro. A produção integra a ocupação comemorativa dos 15 anos da Cia Teatro Esplendor, que permanece em cartaz no espaço até setembro.
Gomlevsky revela que há anos nutria o desejo de enfrentar o príncipe dinamarquês, considerando a experiência "pedagógica, como uma aula de teatro". O ator destaca a riqueza do personagem, que considera "vilão e herói, cheio de camadas, e muito complexo", admitindo que apenas agora se sente preparado para tal empreitada. A preparação envolveu mais de 11 meses de laboratórios intensivos, construindo uma abordagem que o diretor define como "intensa, emocional e física".
A montagem promete explorar os conflitos morais e psicológicos que tornam Hamlet um dos personagens mais fascinantes da dramaturgia ocidental. O embate entre aparência e verdade, razão e instinto, poder e corrupção ganha nova dimensão nesta encenação.
A tradução de Geraldo Carneiro, imortal da Academia Brasileira de Letras, representa um diferencial significativo desta montagem. Gomlevsky elogia o trabalho do poeta, afirmando que conseguiu "manter a poesia do texto de forma absolutamente popular e comunicativa, bastante fluída". Esta nova versão em português busca preservar a força poética shakespeariana enquanto estabelece pontes com os dias de hoje, permitindo que a obra do século XVII dialogue diretamente com questões político-sociais atuais.
A encenação propõe uma experiência que rompe com a tradicional relação palco-plateiaem que o público será convidado a se movimentar durante a apresentação, assistindo à peça de diversos ângulos a cada ato. Esta configuração reflete a busca da companhia por experimentação estética e reinvenção de clássicos do repertório mundial. Gomlevsky promete "revolucionar e oferecer uma releitura absolutamente original" da tragédia shakespeariana.
Entre as escolhas mais ousadas da montagem está a incorporação de elementos contemporâneos, incluindo referências à inteligência artificial, e a escalação da atriz trans Alitta de Léon como Princesa Fortimbrás da Noruega. Esta decisão artística carrega significado político e social, uma vez que o personagem, frequentemente cortado em adaptações, simboliza "uma nova era" e "a destruição do patriarcado", segundo o diretor.
O elenco reúne nomes experientes do teatro carioca, com Daniel Bouzas interpretando Laertes, Glauce Guima como Ofélia, Gustavo Damasceno no papel do rei Cláudio, e Jaime Leibovitch desdobrando-se entre Polônio e o coveiro. Ricardo Lopes assume a dupla função de Horácio e o fantasma do rei, enquanto Sirlea Aleixo dá vida à rainha Gertrudes. Completam o elenco Maria Clara Migliora como Guildenstern, Tamie Panet interpretando Rosencrantz, além de Aquarela Neves e Guilherme Pinel. O cenário fica a cargo de Nello Marrese, com direção de produção de Gabriel Garcia.
A ocupação da Cia Teatro Esplendor no CCBB Rio representa um marco na trajetória do grupo, consolidando sua reputação como laboratório de experimentação teatral. Em seus 15 anos de existência, o grupo desenvolveu uma linguagem própria que combina aprofundamento dramatúrgico com ousadia estética, características que se manifestam plenamente nesta releitura de "Hamlet".
SERVIÇO
HAMLET
Teatro III - CCBB Rio (Rua Primeiro de Março, 66 - Centro)
De 15/8 a 8/9, de quarta a sexta e segundas (19h) dom (18h) | Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia)