Mais do que uma simples agenda de espetáculos, o Teatro I Love Prio vem desenhando uma curadoria que cria conexões reais — entre palco e plateia, entre tradição e inovação, entre consagração e risco. A cada nova temporada, o teatro firma sua identidade como espaço pulsante da dramaturgia contemporânea, especialmente no que diz respeito ao protagonismo feminino.
Com a maior parte de sua programação recente protagonizada por mulheres, o teatro assume uma posição clara, como explica o curador Caio Bucker: "Minha proposta é uma curadoria que fuja do óbvio. Não se trata apenas de selecionar peças, mas de criar uma estética e um diálogo. Misturo estreias com sucessos de crítica, grandes nomes com novos talentos, sempre com o foco na excelência e na diversidade artística."
O ciclo começou com Fernanda Montenegro, que essa corrente com "A Cerimônia do Adeus", dando voz às cartas de Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre — um encontro entre filosofia, política e afeto sob a ótica feminina. Cláudia Abreu mergulhou na mente de Virginia Woolf com o solo "Virginia", numa montagem densa sobre o papel da mulher na literatura e na história.
Rafaela Azevedo apresentou "King Kong Fran", uma explosão de crítica social, música e corpo em cena, denunciando, com humor ácido, as violências de gênero. Já Ana Beatriz Nogueira voltou ao palco com "Tudo Que Eu Queria Te Dizer - 15 Anos Depois", dando voz a seis mulheres por meio de cartas jamais enviadas — um mergulho delicado em memórias, culpas e afetos.
Denise Stoklos trouxe ao I Love PRIO sua trilogia arrebatadora: "Mary Stuart", "Elis Regina" e "Um Faz para Colombo", três peças que pensam o corpo feminino como território de conflito, poder e resistência. Fora da casa, mas em sintonia com sua curadoria, Marisa Orth emocionou com "Bárbara", sobre alcoolismo e recomeço. E Heloísa Périssé encantou o público com seu humor afiado e sensível em "A Iluminada".
Agora, o ciclo se expande. Gabriela Duarte estreia nesta sexta-feira (8) "O Papel de Parede Amarelo e Eu", uma potente leitura cênica do conto clássico de Charlotte Perkins Gilman, marco da literatura feminista. Sob a direção de Alessandra Maestrini e Denise Stoklos, a peça narra a história de uma mulher confinada pelo marido médico em um quarto — sob o pretexto de recuperação da saúde — e sua crescente obsessão pelo papel de parede amarelo que a cerca.
Para Caio Bucker, "Pensar em igualdade é romper com as referências identitárias que estruturam uma sociedade ainda patriarcal e machista. O teatro é, para mim, esse espaço de confronto, de reflexão, de transformação."
Mais do que sete, já são muitas. O Teatro I Love Prio tornou-se um espaço de criação, escuta e fala para as mulheres da cena. Atuando também como coprodutor das montagens, o teatro oferece não só palco, mas suporte, cuidado e liberdade para que cada artista se arrisque e floresça. "Nosso compromisso é com um teatro vivo, inquieto, democrático. Um teatro que provoca, que ousa, que olha para o mundo com inconformismo," resume Caio.
O que começou como uma metáfora agora é um movimento. E o que era palco virou território de presença — potente, feminino, coletivo e urgente.
SERVIÇO
O PAPEL DE PAREDE AMARELO E EU
Teatro I Love Prio (Jockey Club Brasileiro - Av. Bartolomeu Mitre, 1110 - Leblon)
Até 21/9, sextas e sábados (20h) e domingos (19h)
Ingressos: R$ 100 e R$ 50 (meia)