Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

Cia Teatro Esplendor, de Bruce Gomlevsky, celebra 15 anos com ocupação no CCBB Rio

Yasmin Gomlevsky e Gustavo Damasceno em 'Um Tartufo' | Foto: Dalton Valério/Divulgação

É teatro criativo? É teatro inovador? É teatro em todos os gêneros? É teatro premiado? É teatro destemido? É teatro em todas as suas formas? É a Cia de Teatro Esplendor que celebra 15 anos de história como uma das companhias mais respeitadas e premiadas da cena teatral brasileira.

O seu nome é um adjetivo que se transforma em substantivo. Esplendor quer dizer um brilho intenso, uma qualidade de algo que reluz ou resplandece, seja fisicamente ou figurativamente. Pode também significar magnificência, suntuosidade, pompa, ou grandeza, especialmente no contexto de algo que é impressionante ou grandioso.

Quando foi fundada em 2010 o que poderia parecer pretensão se tornou realidade.Estão lá, desde o seu início, a inquietação artística, pesquisa contínua e excelência cênica, construindo uma linguagem própria ao longo de sua caminhada, combinando rigor técnico, liberdade criativa e profunda conexão com a contemporaneidade.

O surgimento da companhia nasceu do desejo de Gomlevsky de experimentar uma nova abordagem de direção e interpretação. "Queria testar um método, uma forma de trabalhar com os atores. Começamos com textos fechados, bem realistas, estudando o sistema Stanislavski e o método das ações físicas, mas aos poucos isso se transformou", conta. Ele, que vinha de uma formação ligada ao teatro experimental e ao chamado teatro pós-dramático, passou a buscar uma linguagem mais híbrida, em que o corpo, a voz e a presença ocupassem um lugar central.

Com o tempo, a Cia Teatro Esplendor deixou de ser apenas uma companhia de repertório e passou a funcionar como um verdadeiro laboratório artístico. "Com Tartufo, por exemplo, ensaiámos durante nove meses. Isso mudou tudo. Começamos a incorporar mímica, capoeira, expressionismo alemão, a assistir a filmes mudos. Abandonámos o realismo puro e passámos a buscar uma atuação mais estilizada, mais simbólica."

Essa transição marcou a consolidação de uma metodologia própria, voltada não apenas à montagem de espetáculos, mas também à investigação da técnica do ator. "Queremos dialogar com os textos, não apenas encená-los. Hoje em dia, se preciso for, a gente até profana o texto original. O importante é ele fazer sentido para o nosso tempo", afirma. Segundo ele, o grupo realiza um teatro de pesquisa, baseado em ensaios de longa duração, com atenção especial à psicofísica do ator e ao desenvolvimento de um treinamento físico e vocal contínuo.

Esse trabalho rendeu reconhecimento da crítica e prêmios de peso. Bruce Gomlevsky venceu duas vezes o Prêmio Shell de Melhor Direção, por Festa de Família (2009) e O Funeral (2014), espetáculo que também conquistou o Prêmio Cesgranrio de Melhor Espetáculo. Já O Homem Travesseiro, estrelado por Tonico Pereira, levou os prêmios APTR de Melhor Diretor, Melhor Espetáculo e Melhor Ator.

Outros trabalhos também se destacaram: Um Tartufo foi indicado ao Shell e ao Cesgranrio nas categorias de figurino, iluminação e inovação, consolidando a estética ousada da Cia. A montagem solo de Outra Revolução dos Bichos recebeu indicações ao Shell de Melhor Direção e ao APTR de Melhor Ator. Além disso, a companhia foi reconhecida com o Prêmio Questão de Crítica pelo conjunto de sua proposta estética e dramatúrgica.

Nos bastidores, a dimensão desse trabalho também se reflete na operação prática da companhia. Segundo Gabriel Garcia, produtor executivo da Esplendor, montar uma ocupação com quatro peças e uma oficina exige um esforço logístico enorme:

"É um trabalho quadruplicado, quintuplicado. São quatro elencos, quatro fichas técnicas, quatro orçamentos e cronogramas paralelos. Mesmo com parte da equipe se revezando, os horários são distintos. A gente está há sete dias chegando no teatro às 9h e saindo às 19h. Depois disso, ainda continuamos trabalhando em casa, sem horário fixo. É um trabalho de vinte horas por dia, sete dias por semana."

Mesmo sem patrocínio fixo, o grupo mantém um ritmo constante de criação. "Temos um trabalho continuado. Ganhamos o edital ProCarioca, o que nos ajuda muito, mas não é suficiente para sustentar o tipo de pesquisa que fazemos. Precisamos de tempo de sala, de investigação, e isso exige recursos. Espero que no futuro possamos levar nossas peças para outras cidades, para fora do Brasil, e continuar a explorar a fundo o que é ser ator, o que é criar no palco", afirma Gomlevsky.

A Cia Teatro Esplendor segue, assim, fiel ao seu propósito: investigar, provocar, formar e emocionar. Impactar as plateias sempre com coragem criativa, consistência técnica e paixão pela arte. Esplendorosa.

SERVIÇO

OCUPAÇÃO CIA TEATRO ESPLENDOR - 15 ANOS

Teatro III - CCBB Rio (Rua Primeiro de Março, 66 - Centro) | Até 8/9, de quarta a sábado e segunda (19h) e domingos (18h) | Ingressos: R$ 30 e e R$ 15 (meia)