A nossa vida é composta de duas perguntas, ambas decorrentes de não conhecermos nada sobre a vida. E daí? E depois? Um passado comum, ainda sem qualquer encontro, é um possível chão, um possível ponto de partida. Mas nada, nada nos indica onde uma estrada irá dá. Não há mapa em relações afetivas.
Com dramaturgia e direção de Gabriel Flores, Depois é a metáfora entre o aquie o agora, a lembrança que se cristaliza como tivesse sido verdade, é explorada no texto de forma que se constroem duas cenas paralelas e ao mesmo tempo concomitante que são apoiadas nas eficientes transições realizadas pela direção.
O protagonista, Caio (Danilo Maia), é um artista em eterna crise criativa e existencial. Preso entre o passado e o presente, revê sua trajetória ao reencontrar Clara (Patrícia Bello), um amor de formação que ressurge com força e dúvidas sobre a história que viveram. Ao lado de Luiza (Maitê Padilha), executiva bem-sucedida e sua atual companheira, Caio se vê dividido entre o amor utópica e as dificuldades da vida construída com esforço e rotina.
A montagem valoriza o gestual e as cenas curtas, mas simbólicas. A atuação do trio — Maia, Padilha e Bello — dá corpo à tensão emocional entre paixão, parceria e identidade. Os diálogos ressaltam a distância entre os desejos e as realidades, enquanto Caio tenta equilibrar os valores herdados de sua cidade natal e as exigências da metrópole, onde o sucesso costuma eclipsar o afeto.
Nada é fácil em "Depois". Carreira, amor, convivência são sempre pontos de tensão, nós que custam a serem defeitos. A mudança do figurinos apresenta isso de forma clara, cotidianos, simples, formais, parte da vida. Depois fala de dúvidas, de pontos de interrogação, do choque entre o eu e o outro, não oferece respostas fáceis. É uma obra sobre como equilibrar a incerteza, sem ter certeza. Pois depois só vem o depois que não sabemos.