Um encontro entre ancestralidades marca a estreia do espetáculo "Do Sonho da Terra", que entra em cartaz no Teatro de Arena do Sesc Copacabana de 12 a 15 de junho, sempre às 20h, com ingressos gratuitos. Fruto da colaboração entre Juliane Cruz, mulher negra, e Hugo Leiva, artista de ascendência indígena, a performance parte das histórias de seus corpos para construir uma reflexão sensorial sobre território, memória e sonho como formas de resistência e invenção de futuros.
A encenação, com direção de Maurício Lima e direção criativa de Laryssa Machada, articula dança, teatro e performance para revisitar narrativas brasileiras que emergem da diáspora negra e indígena. Longe de entender o sonho como fuga, a obra o reconhece como ferramenta política e existencial. "Queríamos falar da nossa ancestralidade e dos cruzos entre os povos negros trazidos para cá e os originários que aqui estavam. Pensar como somos feitos dos sonhos dos nossos antepassados", diz Juliane, idealizadora da montagem ao lado de Leiva.
A pesquisa de ambos artistas se aprofunda em práticas contracoloniais, incorporando experiências urbanas e rituais como matéria dramatúrgica. A cidade — entendida também como floresta — torna-se o espaço simbólico onde memória e imaginação se entrelaçam. "O espetáculo é também sobre resgatar territórios soterrados. A cidade carrega a floresta e os encantados que foram silenciados", afirma Juliane.
A concepção da obra dialoga com pensamentos de Leda Maria Martins, que entende o corpo como lugar de memória, e com a cosmologia do sonho de Davi Kopenawa, líder Yanomami. Segundo ele, o sonho é parte da constituição de seu povo, uma herança deixada por Omama, o criador do mundo. Kopenawa contrasta essa visão com a dos brancos, que "dormem muito, mas só sonham com eles mesmos".
No palco, corpo e memória se fundem numa dramaturgia não verbal, construída a partir de gestos, sons, ritmos e atmosferas que evocam o sagrado e o sensível. "A gente quis reivindicar o sonho como uma perspectiva de existência negra e originária. O espetáculo convida o público a entrar na floresta, a dançar com a terra, com a água, com o vento. É nesse lugar que o corpo fala por si", resume Juliane.
SERVIÇO
DO SONHO A TERRA
Teatro de Arena do Sesc Copacabana (Rua Domingos Ferreira, 160 - Copacabana) | De 12 a 15/6, de quinta a domingo (20h) | Ingressos gratuitos disponíveis na bilheteria