Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA / TEATRO / ÉDIPO REC: O Rei é o horror

DJ Édipo comanda uma festa onde a plateia é levada ao palco | Foto: Gabriela Passos/Divulgação

O horror anda de mãos dadas com a humanidade. Está na criança que apanha de um adulto em plena rua. Nos feminicídios denunciados na televisão. No racismo excludente. Na negação da nossa história. Na vida provisória do morador em situação de rua.

"Édipo REC", a 15ª montagem do grupo pernambucano Magiluth, é, aparentemente, uma releitura da tragédia clássica de Sófocles. No entanto, a peça desloca o eixo da narrativa para apresentar o ambiente que envolve os crimes cometidos por Édipo. Sob a direção de Luiz Fernando Marques, conhecido como Lubi, o espetáculo celebra os 20 anos da companhia com uma abordagem que mergulha na contemporaneidade, marcada pelo uso intenso da tecnologia.

A peça divide-se em dois atos. O primeiro transforma-se numa festa, comandada pelo DJ Édipo, onde a plateia é levada ao palco, dança e participa de uma celebração intensa. Pessoas desconhecidas tocam-se, são filmadas — a interação acontece sem motivo ou explicação clara.

O segundo ato aborda a tragédia num ritmo próximo ao dos programas sensacionalistas de televisão: os personagens entram e saem de cena, defendem-se, acusam-se, escondem-se. O ponto alto surge numa excelente projeção em que Édipo, numa motocicleta, mata Laio, que está numa bicicleta.

A integração das tecnologias audiovisuais — como a presença de um operador de câmara que interfere nos acontecimentos — reforça a fusão entre o real e o encenado. A festa e a alegria revelam-se como o rosto do horror inevitável. O hiper-realismo evidencia que o horror ultrapassa a realidade quotidiana.

O elenco está coeso na proposta farsesca da encenação. Erivaldo Oliveira, no papel do Coro, assume uma figura drag que conduz o público com humor e ironia, suavizando a tragédia. Giordano Castro interpreta um Édipo que detém o poder do DJ — o poder de controlar as pessoas. Jocasta revolta-se contra a submissão feminina. E Édipo, desta vez, não se cega. Com razão: mesmo com visão, continuamos a não ver o horror.

SERVIÇO

ÉDIPO REC

Teatro Firjan Sesi Centro (Av. Graça Aranha, 1)

Até 13/5, às quintas e sextas (19h), sábados e domingos (18h)

Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia)