Por: Cláudia Chaves | Especial para o Correio da Manhã

CRÍTICA / TEATRO / TODA DONZELA TEM UM PAI QUE É UMA FERA: Coração de pai não se engana

A comédia de Glaucio Gill ressurge com leitura atualizada | Foto: Dalton Valério/Divulgação

A comédia "Toda Donzela Tem um Pai que É uma Fera", escrita por Gláucio Gill em 1962, foi além de ser um retrato dos costumes de uma época que inaugurou uma mudança de costumes. Toda Donzela tem um pai que é uma fera virou bordão, uma piada particular, refrão de música... Ao mesmo tempo é um pequeno vaudeville, uma comédia de costumes, críticas sociais e entretenimento popular com enredos simples, muitas vezes envolvendo mal-entendidos e situações cômicas.

Ambientada em uma Copacabana, com prédios habitados por diferentes populações, solteiros, em sua maioria, que criava a mística de um local de encontros, notadamente sexuais. A direção de Débora Lamm que traz a sua experiência em comédia para ter uma leitura atualizada, ainda que a época não seja definida, com a linguagem neutra e manter as características do gênero com muita habilidade.

O elenco brilha em cena, com destaque para Leticia Isnard, que interpreta a vizinha dos protagonistas e imprime à sua personagem uma energia contagiante, contribuindo significativamente para o ritmo cômico da peça. Lucas Sampaio, no papel do namorado, entrega uma performance autêntica, capturando as nuances de um jovem dividido entre o amor e as pressões externas. A química entre os atores é palpável, resultando em cenas envolventes e hilariantes.

Um elemento notável desta produção é o cenário concebido por Marieta Spada, que utiliza portas móveis de forma criativa e funcional. Essas portas não apenas delimitam os espaços cênicos, mas também simbolizam as barreiras e transições enfrentadas pelos personagens. A movimentação constante das portas adiciona dinamismo às cenas, reforçando o clima de confusão e comédia de erros que permeia a narrativa.

A aguda crítica social do jovem autor Gláucio Gil que escreveu apenas esse texto, pois logo faleceu, transforma-se agora em uma reflexão, sobretudo em momentos de pautas morais, quando se escala em uma situação corrente - namorados morarem juntos - como algo a ser punido. Mas ganha a platéia que conhece um momento histórico relevante e pode compará-lo com muita diversão com o que conquistamos hoje.

"Toda Donzela Tem um Pai que É uma Fera" ressurge nos palcos com vigor renovado, graças à direção perspicaz, às atuações inspiradas de Leticia Isnard e Lucas Sampaio e a um cenário engenhoso que enriquece a experiência teatral. Esta montagem não só homenageia o legado de Gláucio Gill, mas também reafirma a atemporalidade de sua obra, convidando novas gerações a refletirem sobre os dilemas familiares e sociais com leveza e humor

SERVIÇO

TODA DONZELA TEM UM PAI QUE É UMA FERA

Teatro Glaucio Gill (Praça Cardeal Arcoverde, s/nº Copacabana)

Até 24/2, sábados e segundas (20h) e domingos (19h)

Ingressos: R$ 5 e R$ 2,50 (meia-entrada)