O livro com o texto da peça "Não Me Entrego, Não!", de Flávio Marinho, chega às livrarias pela editora Cobogó, celebrando a trajetória de um dos grandes nomes da dramaturgia brasileira: Othon Bastos. Flávio e Othon participam da noite de autógrafos do lançamento do livro nesta quarta-feira (19), às 19h, na Livraria Janela, no Shopping da Gávea — o mesmo local onde o Teatro Vanucci sedia a temporada de sucesso do espetáculo, em cartaz até domingo (23).
Aos 91 anos e com mais de sete décadas dedicadas à arte, Othon Bastos construiu uma carreira marcante no teatro, no cinema e na televisão. No cinema, eternizou personagens como Corisco, em "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964), de Glauber Rocha, e o poderoso coronel Irapuan, em "O Grande Sertão" (1965), de Geraldo Santos Pereira. Também brilhou em filmes como "São Bernardo" (1972), "O Amuleto de Ogum" (1974) e "Abril Despedaçado" (2001). Na televisão, participou de novelas icônicas, como "Renascer" (1993), "O Rei do Gado" (1996), "Senhora do Destino" (2004) e "Velho Chico" (2016), além de atuar em diversas produções teatrais ao longo da vida.
Em "Não Me Entrego, Não!", Othon entrega mais uma atuação primorosa e conduz o público pelos bastidores de algumas dessas obras, relembrando desafios, encontros e momentos cruciais de sua trajetória. Em cena, a peça incorpora uma figura simbólica - a Memória -, que interage com o ator e resgata passagens emblemáticas. Com humor, emoção e reflexões sobre arte, política e vida, o espetáculo transforma lembranças em um poderoso testemunho sobre a cultura brasileira.
Aclamada pelo público e pela crítica, "Não Me Entrego, Não!" rendeu a Othon Bastos uma indicação ao Prêmio Shell de Melhor Ator e concorre ao prêmio APTR em cinco categorias, incluindo dramaturgia e direção (Flávio Marinho), espetáculo e produção não-musical.
Num dos trechos da dramaturgia assinada por Flávio Marinho o veterano ator diz: "Artista, o teu nome já nasce na lista dos que vão sangrar de paixão e dor. É marca, é sina, não tem remissão. Vai cumprir missão até se esvair com o teu sinal da cruz, tua dor de raiz. Criar é mais importante que ser feliz."
Mas um das melhores passagens se dá quando Othon recorda o momento em que Glauber Rocha lhe convidara paar o elenco de "Deus e o Diabo na Terra do Sol":
"Othon (imitando Glauber Rocha): 'Othon, vem comigo, preciso de você para fazer meu filme'. Expliquei que não podia, que estava ensaiando uma peça. 'Eu compro o teu passe!' Como assim? E lá fomos para o teatro. Não é que ele convenceu a produção a me liberar por duas semanas por cem mil cruzeiros?"
"Memória", pergunta Othon, "quanto vale cem mil cruzeiros hoje?". "Trinta e seis reais e quarenta e cinco centavos". ela responde. "E lá fui eu para o fim do mundo fazer 'Deus e o Diabo na Terra do Sol' por R$ 36,45."
Simplesmente obrigatória essa leitura.