Baseado na obra de Clarice Lispector, o solo "Palavras", com atuação de Tuca Moraes e direção de Luiz Fernando Lobo, está inaugurando a Sala Sérgio Britto, um noco espaço no Armazém da Utopia. Convidado para abrir a temporada de abril no Théâtre de La Concorde, em Paris, a nova montagem da Companhia Ensaio Aberto é uma experimentação na qual a literatura é ponto de partida para a pesquisa do teatro narrativo.
A parceria entre a Tuca Lobo ganha outra dimensão. A atriz se deixa conduzir pelo pulsar de palavras, de frases, de memórias, de sentimentos, pensamentos, acumulados em camadas uns sobre os outros, como num espiral. Linguagem e sentidos vão se fazendo ali à vista dos espectadores. O encontro com o público torna o espetáculo um experimento único. O diretor faz intervenções de som e luz que provocam a atriz.
Com pouquíssimos objetos, o espaço cênico de J.C.Serroni, luz de César de Ramires, figurino de Beth Filipecki e Renaldo Machado, o experimento recebe apenas 40 espectadores por sessão.
"É um enorme desafio se jogar no abismo de Clarice, no abismo do mundo sem nenhuma linha de vida pra te salvar. O experimento é uma enorme desconstrução e uma aposta no encontro com cada espectador. É também levar ao extremo a relação de confiança atriz/diretor. Eu me jogo. Se tiver me afundando sei que o Luiz Fernando Lobo vai intervir. É um jogo de risco. Um jogo de verdade.", comenta Tuca.
Luiz Fernando Lobo lembra que esse é o segundo trabalho solo de Tuca Moraes, dirigido por ele. O primeiro foi "Estação Terminal", baseado no diário de Lima Barreto, que estreou em Londres e fez uma longa temporada no Brasil e faz parte do repertório da Ensaio Aberto. "A Ensaio Aberto tem a tradição de espetáculos com grandes elencos e esses solos são sempre um se atirar no abismo, que nos possibilita muitas descobertas." Lobo destaca que "a Sala Sérgio Britto é uma homenagem a um grande amigo, incentivador e entusiasta da Ensaio Aberto, fundamental na minha carreira. Sérgio foi um grande homem de teatro", destaca.
As frases de Clarice serão organizadas como uma bricolagem: "A letra em Clarice anda, para, recua, avança: retoma o ponto, retece-o, leva-o adiante; a frase, vinda de sua inigualável proximidade com o mundo das sensações, revela-se pelo uso plástico da língua. E os dizeres, entre mágicos, sorridentes e diretos, situam-se como ensaios: um preparar-se permanente em local de procura e de pergunta, uma entrega à naturalidade e ao perigo dessa arte maior, a do não saber; guiando-se, pela inteligência dos impulsos, temendo e não temendo, cabem o ir e o avançar, considerando a pausa; nesse estado de quem caminha, Clarice indaga-se sobre o que se vai criando ao deixar a escrita entrar em movimento", diz Roberto Correa dos Santos, autor dos livros As Palavras e O Tempo, uma coletânea de frases da obra da escritora.
SERVIÇO
PALAVRAS
Armazém da Utopia - Sala Sérgio Britto (Orla Conde - Armazém 6 - Cais do Porto)
Até 22/2, sábados e domingos (18h), com apresentações limitadas a 40 pessoas por sessão
Ingressos: R$ 50 e R$ 25 (meia)