A música de Chico Buarque acerta quando diz que a "dor da gente não sai no jornal." Os tropeços do cotidiano, os pequenos desejos, a vida que comum que é incomum, as perdas imaginárias, as perdas verdadeiras. São tantas coisas do cotidiano que nos engolfam, engolem e afogam. É desse vaivém do pequeno, do micro que Isabel Guéron constrói, com graça e emoção, Entressafra.
A partir de seu próprio livro, "Entressafra", e incorporando a experiência do humor cínico de seu personagem podcástico do Não é Noronha, Isabel percorre todos os tons que compõem uma interpretação que muda o tom de voz, o olhar, o movimento de corpo, o relacionamento da platéia, ao contar de forma sintética episódios que poderiam passar batidos, se não fosse o talento abundante de Isabel.
A equipe escolhida por Isabel é formada por profissionais que levam sua experiência extra e intra teatro para aprofundar o significado do texto. Os figurinos de Luiza Marcier vão do basicão da roupa com que Isabel aparece até o vestido de "festa"descontruído, porém refinado, em um estilo Oscar. A direção de Cristina Moura com assistência de Ana Paula Novellino aproveitam o pequeno espaço e trilha sonora original de Rodrigo Maranhão resolve muitíssimo bem a passagem dos episódios.
O primeiro nível de compreensão é o período em que os atores ficam sem trabalho, a entressafra. Mas o que fica claro para a platéia é que, em todas as vidas, há um período, seja por qual motivo, temos que nos ver frente a frente com as nossas funções, com o que nos acontece. Esse é , talvez, o papel mais difícil de se interpretar. E Isabel tem uma atuação digna de vencer qualquer prêmio.
SERVIÇO
ENTRESSAFRA
Espaço Abu (Av. Nossa Senhora de Copacabana, 429 - Loja E)
Até 2/2, sexta a domingo (20h)
Ingressos: R$ 60 e R$ 30 (meia)