Verônica Bonfim, já traz no nome arte, a força maior de transformar, a coragem de emprestar persistência ao obstáculos, mesmo os mais difíceis, Valha-me Verônica, valha-me meu senhor do Bonfim. Veronica é doutora em engenharia florestal, o que já lhe dá o conhecimento e vocação para plantar as melhores sementes e colher frutos dos melhores.
Multiartista na real: escreve, dirige, produz, canta, dança, representa. Provoca novidades, é bordadeira de palavras como lhe disse, outra multiartista, Natasha Corbelino. Verônica conversou com exclusividade com o Correio da Manhã, sobre a sua trajetória de Itabuna, no Sul da Bahia, ao Rio e até sobre seus dias futuros.
Você é de uma família interracial baiana. Conte-nos um pouco...
Verônica Bonfim - A família paterna é toda de Salvador. A família minha mãe de Corentina, no oeste da Bahia. Eu e minhas irmãs fomos criadas no sul da Bahia, Itabuna e Ilhéus. Foi uma infância muito feliz, permeada por muita violência doméstica, mas nunca nos faltou nada. Meu pai sempre nos proveu de tudo, principalmente dos estudos, Sou fruto de uma família interracial. Meu pai era negro, e minha mãe é branca, filha de negros e com indígenas lá do oeste da Bahia. Uma mulher muito forte, de muita fibra, que foi minha mãe. Meu pai também, a partir da educação que me proporcionou, muito batalhador, nunca teve o que comer e se tornou médico . Valores mais lindos e mais incríveis que tenho com minhas irmãs, foi minha mãe. Me inspiro muito nos dois. Na meu pai era um excelente profissional, já fez a passagem. E minha mãe nos criou com muito amor. Somos quatro irmãs que nunca brigamos, nunca ficamos sem nos falar. Fui criada num ambiente que sempre ouviu muita música boa, cercada de muita cultura.
E como você começou a representar?
Muito jovem , criava várias personagens em casa para poder alegrar minha mãe e as irmãs, fazê-las rir. Quando minha mãe estava muito triste, depois de mais uma surra, que às vezes tomava de meu pai, inventava coisas. Ia no guarda-roupa dela, tirava tudo, me maquiava, me montava inteira e assim nasceu minha primeira personagem, Lilith Power, da Divosa dos Babás, de plumas e paetês. Ela nasceu com esse nome. Achava que ia ser artista, mas queria trabalhar com meio ambiente, talvez violonista, gostava muito de violão. Começo pela música e aqui no Rio me encontro com teatro profissionalmente, a partir do Tá na Rua. Trabalhei 10 anos com Oswaldo Montenegro. Foram trilhas, filmes, séries, teatro. Essa foi a minha grande escola.
Lá no começo de tudo você chegou a participar de um reality show musical, o Fama. O que aconteceu depois?
Eu fiz esse programa na Globo e saí na sexta semana. Isso virou uma chave na minha cabeça. Terminando meu doutorado, levando a carreira artística como cantora e compositora em paralelo. Venho pro Rio, me envolvo com teatro, gravo um disco chamado "Olhos da África", autoral. Vou para a África quatro vezes. Vou até ao Paquistão com o meu trabalho como cantora, compositora. Hoje a cantora está talvez um pouco mais a serviço da atriz nos palcos, na cena, na performance. Quero muito retomar esse ano, também, com o meu trabalho autoral em música.
E como você começou a escrever?
Foi a primeira forma que eu encontrei de poder quebrar o silenciamento de uma vida inteira. Comecei pela poesia, escrever dramaturgicamente veio com o meu livro infantil, !A Menina Aquiles e o Seu Tambor Falante", já pensando em transformar num musical. Texto, dramaturgia, músicas, tudo assinado por mim, direção artística também. Convidei o Rodrigo França, ele fez a direção, com a Valéria Munan, que faz a co-direção. Ganhamos o APTR como Melhor Musical Infantil Juvenil, já estava começando a escrever algumas performances. Chego à minha quarta dramaturgia, que é o "Zona Lésbica", texto e dramaturgia são meus, e músicas também originais, com a Dani Negas, sendo que duas com ela e uma é minha, que eu já tinha, que canto no espetáculo.
E o futuro a que deus pertence?
Estou tentando retomar o meu projeto infantil com "A Menina Aquiles e o Seu Tambor Falante". Tenho mais dois projetos infantis aprovados pela Lei Rouanet, mas, infelizmente, como artista negra, lésbica, independente no Brasil, é muito difícil captar. Um infantil para falar com as crianças e famílias sobre condições neurológicas, autismo, TDA, TDAH, a partir da brincadeira, de uma forma muito afetuosa e amorosa. Falar de Lecy para as crianças, o livro se chama "Lecy e as coisas que mamãe me ensinou". Para adulto, tem a minha performance, "Delícias Lésbicas", que transformei num espetáculo teatral que se chama "Tudo Sobre O Amor", baseado também, inspirado no livro da Bell Hooks, para falar sobre o amor entre mulheres pretas, que é um espetáculo que quero muito conseguir aprovar em algum edital. Os planos para o futuro estão cada vez mais nos meus trabalhos autorais.
SERVIÇO
ZONA LÉSBICA
Teatro II - Centro Cultural Banco do Brasil (Rua Primeiro de Março, 66 - Centro)
Ingressos gratuitos (disponíveis na bilheteria física ou no site do www.bb.com.br/cultura