Artista que atua profissionalmente em teatro, televisão e cinema desde 1994, o ator Luiz Machado poderá ser visto em dois espetáculos que estreiam no próximo dia 15, no Teatro Glauce Rocha, no Centro. São eles os solos "Nefelibato" e "As Artimanhas de Molière". O primeiro tem a direção de Fernando Philbert e o segundo por Márcio Trigo.
Pelas ruas da cidade, Anderson oscila entre a lucidez e a loucura - ele hoje é apenas a sombra de um homem outrora bem-sucedido, mas que perdeu tudo: sua empresa, todas as suas economias, o grande amor da sua vida e um parente querido. Na fronteira com o delírio, mas ainda capaz de lampejos de sabedoria, essa pungente figura é interpretada por Machado em "Nefelibato".
Escrito por Regiana Antonini e com supervisão artística de Amir Haddad, o monólogo faz sucesso há quase nove anos nos palcos do país. Agora, inicia uma nova temporada no Rio. A trama de "Nefelibato" é ambientada na década de 90, mas dialoga muito com o Brasil de hoje. Em cena, os efeitos devastadores do Plano Collor, que levaram Anderson a se tornar morador de rua. O país voltava a ter um governo eleito democraticamente e a inflação galopante exigia medidas drásticas. A saída da nova equipe econômica foi confiscar parte da caderneta de poupança da população, o que levou milhares de brasileiros ao desespero e à bancarrota. Muitos enlouqueceram. Esse é o caso de Anderson, que ainda amarga outras perdas em sua vida.
"Anderson é alguém que vive situações limite. Um equilibrista no fio tênue entre lucidez e loucura, vida e poesia", diz o ator. "Ele vai morar na rua nos anos 90, quando perde dinheiro e família, mas suas reflexões se encaixam muito bem no período em que estamos vivendo. Ele fala sobre as relações humanas, como as atitudes que nós tomamos sem pensar muito costumam ser individualistas", acrescenta.
O quanto de loucura é necessário para o ser humano não perder a própria vida? Essa pergunta acompanhou o diretor Fernando Philbert ao longo do processo da montagem. "Quis tratar do instinto de sobrevivência que o ser humano tem e esquece que tem. Viver na rua é o caminho que ele encontrou para continuar vivo", destaca o diretor.
Nascido há mais de quatro séculos, Molière (1622-1673) é até hoje um dos mais importantes dramaturgos do mundo, responsável por espetáculos críticos e satíricos, que mostram com maestria os defeitos e virtudes da alma humana. Grande homenagem ao comediógrafo, "As artimanhas de Molière" volta ao cartaz, a partir do dia 17, com uma trama que, bem ao estilo do autor francês, aponta o dedo e desmascara os falsos sábios, a avareza dos burgueses, as mentiras dos médicos ignorantes e outros comportamentos sociais nada lisonjeiros.
Com adaptação de Fernanda Celleghin e interpretação de Luiz Machado, o monólogo reúne em uma só história quatro protagonistas de comédias escritas por Molière: Alceste, de "O Misantropo", Esganarello, de "O Médico à Força", Don Juan e Tartufo, das peças homônimas.
Em uma espécie de "jornada do herói" às avessas, o protagonista conta para a plateia toda a sua história, cheia de peripécias, erros e acertos. Após uma desilusão amorosa, ele se torna vingativo e passa a usar as mulheres, mas acaba tendo que se casar à força e é deserdado pelo pai. Sem dinheiro, vive em pé de guerra com sua esposa, que cobra demais, e ele faz de menos. Qual será o destino deste anti-herói? Machado, que completa 30 anos de carreira, estava com vontade de trabalhar em uma comédia depois do sucesso do drama "Nefelibato".
"Fiquei com vontade de fazer comédia e logo pensei no maior comediógrafo de todos os tempos, que celebrou 400 anos em 2022. Molière escreve sobre a hipocrisia humana em quase todos os textos, e é um assunto que me interessa pôr em cena", explica Luiz Machado. "Para manter o bem-estar social, a gente precisa ser falso ou omitir opiniões em diversos momentos. E as peças dele detalham esses comportamentos que estão presentes cada vez mais no nosso cotidiano. Basta olhar as redes sociais, que mostram cenas que não são verdadeiras e guardam objetivos ocultos", completa o ator.
O espetáculo estreou em 2023 e foi idealizado por Luiz Machado e Márcio Trigo, que pela primeira vez trabalharam juntos. O diretor sempre foi grande admirador de Molière, de estilo de humor e das situações que têm como base a comédia dell'arte. "Cheguei a traduzir e adaptar quatro peças escritas por ele", conta Trigo. "Quando eu e Luiz pensamos em trabalhar num monólogo, não tive dúvidas: vamos adaptar Molière. Um desafio e tanto. Não queríamos uma peça; a ousadia era juntar personagens e contar uma só história. Escolhemos quatro personagens e chamamos a Fernanda Celleghin para criar o elo entre eles", acrescenta.
SERVIÇO
NEFELIBATO
De 15/1 a 6/2, às quartas e quintas (19h)
AS ARTIMANHAS DE MOLIÈRE
De 17/1 a 9/2
Teatro Glauce Rocha (Av. Rio Branco, 179 - Centro) | Ingressos: R$ 50 e R$ 25 (meia)