Por Sônia Paes
O setor energético iniciou a segunda-feira, dia 20, com mais uma bomba por conta da briga entre o presidente Lula e o Congresso Nacional. Quem entrou na mira do governo e pode ser exonerado é o presidente da INB (Indústria Nucleares do Brasil), presidida pelo engenheiro Marcelo Xavier Castro, desde agosto deste ano, por indicação do deputado federal Hugo Leal (PSD-RJ).
A medida está sendo articulada porque Hugo Leal está na lista de deputados que votou pela derrubada da MP, que taxaria rendimentos de aplicações financeiras e apostas esportivas e compensaria a revogação de decreto que previa aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). A informação sobre a mudança na direção da estatal federal foi divulgada, com exclusividade, nesta segunda-feira, dia 20, pelo "Valor".
Marcelo Xavier de Castro tomou posse em agosto, assim como os diretores Itamar de Almeida (Finanças e Administração) e Tomás Antônio Albuquerque de Paula Pessoa Filho (Recursos Minerais) assumiram suas funções no dia 13 do mesmo mês. Na ocasião, não houve mudança na diretoria de Combustível Nuclear, ocupada Reinaldo Gonzaga, e na de Enriquecimento Isotópico, que tem à frente o contra-almirante Alexandre de Vasconcelos Siciliano.
Mudança na Eletronuclear e Angra 3
O possível movimento na diretoria da INB ocorre uma semana depois da renúncia do presidente interino da Eletronuclear, Sinval Zaidan Gama, pedida na segunda-feira, dia 13, dos cargos de presidente interino e diretor técnico da empresa. Ele alegou motivos de ordem pessoal para deixar o cargo. O anúncio da saída de Zaidan acirrou a briga interna no governo federal pela nomeação de outro nome, segundo fonte ligadas ao setor. E mais: o sindicato dos empregados - o STIEPAR - da Eletronuclear também atua nos bastidores e tem forte influência entre lideranças políticas e chega a pedir, inclusive, a saída de alguns diretores. A Eletronuclear é gestora das usinas nucleares Angra 1, Angra 2 e Angra 3 (com as obras paralisadas), na Costa Verde do Estado do Rio.
Um negócio de R$ 535 milhões também marcou, na semana passada, a entrada do grupo J&F na geração de energia nuclear. A Âmbar Energia, unidade de negócios da J&F S.A., assinou contrato para adquirir a totalidade da participação detida pela Eletrobras na Eletronuclear. A negociação depende da aprovação dos órgãos reguladores.
Pelo contrato, a Âmbar passará a deter a participação de 68% do capital total e de 35,3% do capital votante da Eletronuclear antes detida pela Eletrobras. A União, que não faz parte da transação, continuará controlando a Eletronuclear por meio da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar), que detém 64,7% do capital votante e cerca de 32% do capital total.
Reunião do CNPE promete ser explosiva
Ao que tudo indica, conforme fontes ouvidas pelo Correio Sul Fluminense, a reunião do CNPE (Conselho Nacional de Política Energética), marcada para o dia 31, terá uma pauta para lá de bombástica: a direção das empresas do setor energético e a conturbada novela sobre as obras de Angra 3, iniciadas ainda na década de 80.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que preside o Conselho, deverá ser bombardeado. Ele é um ferrenho defensor da continuidade da construção da usina, mas estaria perdendo forças, principalmente após Hugo Leal, seu aliado, ter ajudado a derrubar a MP que fazia parte do pacote fiscal do presidente Lula para aumentar a arrecadação e conter os gastos públicos. Aliados do presidente estariam com sangue nos olhos para revidarem a posição dos partidos da base aliada com relação à MP.
INB fornece combustível para usinas
A INB fornece combustível para as usinas operaradas pela Eletronuclear e, com isso, são ligadas diretamente. Uma impacta a outra e as alterações nas diretorias costumam acontecer em uma espécie de efeito dominó. Outro ponto que deixa as estatais no olho do furacão é 2026, com as eleições batendo à porta. Políticos do PT encabeçam a briga pela indicação nas empresas, como explica ao Correio Sul Fluminense um dos especialistas da área.
Sem esquentar a cadeira
Com 38 anos de trajetória na INB, Marcelo Xavier, caso seja exonerado mesmo, não teve tempo sequer de esquentar a cadeira de presidente. Está no cargo há menos de dois meses.
Os diretores Itamar de Almeida (Finanças e Administração) e Tomás Antônio Albuquerque de Paula Pessoa Filho (Recursos Minerais), que assumiram suas funções no dia 13 do mesmo mês, também correm o risco de perderem o cargo, diz uma fonte. Na troca feita em agosto, permanecem nas diretorias Reinaldo Gonzaga (Combustível Nuclear) e o contra-almirante Alexandre de Vasconcelos Siciliano (Enriquecimento Isotópico).