Por Lanna Silveira
A nova política de taxação de exportações brasileiras pelos EUA, conhecida popularmente como o "tarifaço", entrou em vigor durante a última semana. A medida, assinada pelo presidente Donald Trump, faz com que alguns produtos - como café, frutas e carnes -, passem por uma taxa de 50% aos consumidores estadunidenses. Cerca de 35,9% das mercadorias brasileiras enviadas ao país serão afetadas pelo tarifaço.
Produtos como suco e polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes, polpa de madeira, celulose, metais preciosos, energia, produtos energéticos e aeronaves civis não foram incluídos no tarifaço.
A elevação das tarifas representa uma tentativa do governo dos EUA em aumentar a competitividade da economia americana contra o mercado chinês. A economista Sonia Vilela comenta que, devido ao mercado estadunidense costumar ser avaliado com um risco político baixo, o setor ficou "aturdido" com a recente decisão de Donald Trump. "Qualquer prejuízo que cause a um setor da Economia tem uma consequência imediata não desejável, principalmente se não tinha sido prevista e mensurável. Gera um custo de incerteza muito ruim. Principalmente com a velocidade da propagação de temas pouco conhecidos pela população em geral".
O aumento dos preços da taxação recairá sobre os consumidores americanos, diz. Como consequência, o Brasil perderá mercado pelo encarecimento do preço dos produtos. Segundo Sonia Vilela, uma das táticas possivelmente utilizadas no mercado americano para driblar o prejuízo será o aumento da oferta dos produtos com maior índice de taxação, com o objetivo de reduzir o impacto da inflação. Entretanto, segundo ela, a medida não poderá ser aplicada a artigos que possuem ciclo produtivo longo, como frutas e café.
Ciclos de produção longos
As carnes, com ciclos de produção longo e preços atraentes no mercado externo, representarão prejuízos aos produtores com o tarifaço. Entretanto, eles poderão reorientar a produção para atender a demanda dentro do Brasil. "Para o exportador, ganhar em dólar é mais significativo, principalmente com a desvalorização do real. Permite a obtenção de um lucro extra", pontua.
A economista explica que o maior impacto do tarifaço será observado no agronegócio brasileiro. Entretanto, o entrave econômico não será suficiente para causar uma crise generalizada no setor, já que ele se desenvolveu para atender diferentes mercados e não é inteiramente dependente dos consumidores estadunidenses.
Sonia também prevê que o tarifaço incentivará o Brasil a investir na diversificação e buscar novos parceiros em todos os setores. "Hoje, as fronteiras de mercado, são muito amplas. Antigamente as negociações eram muito lentas e onerosas. Até o transporte foi agilizado. Um equipamento levava seis meses para transportar e mais outro tanto para instalar, treinar e começar a produzir", enfatiza.
Impactos internos
No que diz respeito ao mercado interno do país e consumidores locais, os efeitos do tarifaço não apresentarão gravidades. De acordo com Sonia, no período inicial da nova política, é possível que ocorra uma movimentação dos produtores em redirecionar os produtos de maior taxação ao mercado interno, podendo ocasionar uma redução de preços aos consumidores brasileiros.
A economista acredita que os prejuízos não atingirão grandes exportadores nesse primeiro momento, pois a maioria se respaldam antecipadamente com estratégias para proteger seus investimentos contra eventuais flutuações de preço. Os pequenos produtores, por sua vez, poderão ser auxiliados por recursos públicos até que possam se reorientar.
Sonia prevê que as cidades do Sul Fluminense não sofrerão grandes prejuízos. A especialista argumenta que, segundo dados do no Ministério de Indústria e Comércio Exterior, Volta Redonda, sede da CSN, tem a Alemanha, Paraguai, Colômbia e Panamá como os países que demandam seus maiores índices de importação. A economista relembra que produtos como aço e derivados já estavam tarifados em 50% desde abril deste ano, em um momento anterior ao tarifaço.
Os principais mercados dos municípios de Angra dos Reis, Barra mansa, Barra do Piraí, Porto Real e Resende são países asiáticos, europeus e sul americanos, com uma pequena parcela das exportações sendo direcionadas aos Estados Unidos.
A economista pondera ainda que a cidade que poderá ser afetada de forma mais imediata é Três Rios, que tem 60% da sua exportação de carne e derivados direcionada ao mercado estadunidense.