Por Lanna Silveira
O cenário underground da região Sul Fluminense vem trazendo cada vez mais destaque às manifestações de contracultura, que oferecem um espaço de resistência para grupos que se sentem marginalizados socialmente. Uma das festas que têm despontado nos últimos anos é o R.U.A. Crew: coletivo de hardcore punk, formado em 2023, que também agrega vertentes da subcultura e atua como um evento musical, com apresentações de uma variedade de bandas do nicho.
O coletivo surgiu em meio a normalização da vida social no período pós pandêmico, em que cidades como Volta Redonda e Barra Mansa ainda estavam voltando lentamente a promover festas e eventos públicos. "Quando começamos, a cena [hardcore punk] estava praticamente morta aqui na cidade. [Após a pandemia], muita gente que fazia eventos tinha se mudado, mudado de estilo de vida ou simplesmente desanimado", explica Maraya. A formação atual do coletivo conta com Bruni, Maraya e Iago, que se envolvem com eventos relacionados à cena desde a adolescência.
O evento surge com o objetivo de assegurar a visibilidade e resistência da cena hardcore punk no contexto interiorano, garantindo a liberdade de expressão dos ideais do grupo; essa ideologia passa pela valorização da independência, respeito a todas as formas de existência e falta de conformismo a tudo que é imposto pelo status quo e invalida direitos individuais. Isso pode ser observado em cada edição do R.U.A.: tanto pela crueza das apresentações das bandas, quanto na envolvência da plateia, que se envolvem com aquele som por meio da dança e dos mosh pits. Outra proposta forte do R.U.A. é atrair o público jovem para a cena, ajudando a "formar" pessoas dentro da ideologia do hardcore punk e promover um acolhimento maior dessa demografia no movimento.
Bruni acrescenta que o R.U.A. também surge para oferecer um ambiente seguro para todas as minorias sociais - como mulheres e as comunidades LGBTQIA e negra -, tanto na plateia quanto como atrações da festa. Bruni explica que, em épocas anteriores, ele percebia o hardcore punk como "uma cena de homens héteros para homens héteros". Como uma mulher nesse cenário, Maraya acredita que, apesar da presença feminina na cena ter aumentado nos últimos anos, ainda existe uma resistência do público geral ao punk feminino, relatando que, em edições do próprio R.U.A. que priorizam bandas com integrantes mulheres, o evento tende a vender menos ingressos. Por isso, o coletivo acredita ser necessário incentivar que todas as minorias imponham suas presenças nesses espaços.