Por: Richard Stoltzenburg - PETR

Abstenção em Três Rios reflete cenário nacional

Número de abstenções superou o número de votos recebidos pelo candidato eleito | Foto: Ana Paula Caneda/CM

Por Gabriel Rattes

A eleição suplementar de Três Rios, no último domingo (5), foi marcada por uma abstenção de 17.930 eleitores, o que representa 29,25% do total de aptos a votar. O número superou a votação do candidato eleito, Jonas Dico (Podemos), que recebeu 16.182 votos. Segundo o cientista político George Gomes Coutinho, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), o caso de Três Rios não é isolado: o aumento da abstenção tem se tornado um padrão nas eleições brasileiras desde os anos 2000.

"Três Rios se enquadra na média nacional do absenteísmo eleitoral. Na última eleição presidencial, por exemplo, a taxa de abstenção foi praticamente idêntica: 29,2%. Isso mostra que o desinteresse do eleitor não é um fenômeno local, mas nacional — e, em nenhum dos casos, sinal de boa saúde democrática", analisa o professor.

Justificativa digital e falta de representação

Entre os motivos para o crescimento da abstenção, Coutinho aponta dois fatores principais: a facilidade de justificar o voto pela internet e a falta de identificação do eleitor com os candidatos.

"Com o avanço da digitalização da Justiça Eleitoral, justificar o voto ficou mais fácil. O eleitor não precisa ir até o cartório, basta acessar o aplicativo e-Título pelo celular. Isso reduz o custo da ausência. Além disso, há quem não se sinta representado nem pelos candidatos nem pelo regime político em si", explica.

Cassação e frustração política

O cientista político avalia que, no caso específico de Três Rios, a cassação do ex-prefeito Joacir Barbaglio (Republicanos) e a realização de uma eleição suplementar também podem ter influenciado diretamente o comportamento do eleitor.

"É possível que parte da população tenha se desanimado após a cassação de uma chapa eleita. Mesmo quando há motivos legítimos para a decisão judicial, o eleitor pode encarar a nova eleição como algo 'no tapetão', o que gera desmotivação", afirma.

Coutinho ressalta, porém, que isso não significa defender o fim da judicialização da política, mas compreender que ela pode ter efeitos colaterais no engajamento eleitoral.

Legitimidade e desafios do novo governo

Para o especialista, eleições suplementares trazem um desafio extra: conquistar a confiança dos eleitores e das forças políticas locais.

"Chapas eleitas nesse contexto sempre começam com um risco teórico de fragilidade. O prefeito Jonas Dico precisará legitimar seu mandato não apenas pelo voto, mas pela capacidade de governar e dialogar com diferentes setores da cidade", observa o professor.

Democracia e participação cidadã

Encerrando a análise, George Gomes Coutinho faz um alerta sobre o que o alto número de abstenções representa para a democracia brasileira.

"O voto é um direito político, uma forma de o cidadão participar da construção do país. Quando quase um terço da população deixa de exercer esse direito, é um sinal de alerta. Precisamos recuperar a confiança do eleitor nas instituições e na política", conclui.

Contexto

A eleição suplementar de Três Rios foi convocada após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indeferir a candidatura do ex-prefeito Joacir Barbaglio, em julho deste ano. O pleito suplementar definiu Jonas Dico (Podemos) como prefeito até 31 de dezembro de 2028, ao lado do vice Arsonval Macedo Liliu (MDB).

A diplomação dos eleitos está marcada para o dia 29 de outubro, no Fórum da cidade.