Por:

Rio de Janeiro se adapta às mudanças climáticas: Tainá de Paula detalha estratégias e desafios

A urbanista Tainá de Paula é secretária de Meio Ambiente e Clima do Rio de Janeiro | Foto: Paula Vieira/Correio da Manhã

Por Paula Vieira

Às vésperas da COP-30, o Rio de Janeiro realizará uma série de eventos ambientais, mas enfrenta uma realidade climática cada vez mais extrema. Invernos mais frios, intensificados pela La Niña, verões com recordes de calor pelo El Niño, ressacas, enchentes e erosão costeira mostram que a cidade sente na pele os impactos das mudanças climáticas. Em entrevista ao Correio da Manhã, a secretária de Meio Ambiente e Clima, Tainá de Paula, detalhou os esforços de adaptação e os desafios ainda existentes.

"A adaptação climática é uma prioridade da secretaria", afirma Tainá. "O Rio chega a ter sensação térmica de até 65ºC em algumas áreas. Precisamos arrefecer a cidade, garantir sombra, acesso à água e assistência às pessoas vulneráveis. Não é mais romantismo com o calor, é questão de sobrevivência." Em fevereiro, a capital registrou 41,3ºC, entrando no Nível Calor 4 (N4), e em outubro teve mínima histórica de 12ºC; extremos que reforçam a urgência de ações de adaptação.

Ilhas de resfriamento

Lançado em 2024, o Protocolo de Enfrentamento ao Calor Extremo prevê ilhas de resfriamento com áreas arborizadas e acolhimento em parques, escolas e unidades de saúde. O objetivo é reduzir as ilhas de calor nas zonas Norte e Oeste, onde a sensação térmica chega a ser 4ºC mais alta. Para isso, a Secretaria de Meio Ambiente e Clima planeja plantar 45 mil mudas e 2,2 mil árvores até o início de 2026, além de disponibilizar mais ilhas de resfriamentos em prédios públicos e parques.

"Estamos construindo corredores verdes e áreas arborizadas que funcionam como colchões térmicos. Isso muda a realidade de bairros como Bangu, Campo Grande e Guaratiba, trazendo mais qualidade de vida e resiliência ao calor", diz Tainá.

Reuso de água

Parques como os de Realengo, Rita Lee, Piedade e Pavuna vão além do lazer e funcionam como bacias de retenção, ajudando na drenagem da cidade. "A água coletada nesses parques é reutilizada em lavagens de ruas, irrigação de hortas e manutenção dos próprios espaços verdes, evitando desperdício", explica a secretária Tainá de Paula.

Já nas escolas municipais, a climatização ainda é um desafio. "Não é simples como um ar-condicionado doméstico; o equipamento precisa de filtros específicos e adaptação das estruturas. O plano prevê climatizar todas as unidades até 2030", acrescenta.

Ressacas e monitoramento costeiro

O avanço do nível do mar é uma das principais preocupações. Segundo a UFRJ, o oceano pode avançar até 100 metros até 2100, intensificando ressacas que já atingem Ipanema, Leblon, chegando em Botafogo e na Urca recentemente. "Temos um sistema de alerta muito preciso, mas precisamos conscientizar a população sobre como agir", afirma a secretária Tainá de Paula.

Ela destaca que, com monitoramento detalhado, é possível "planejar soluções mais seguras, do reflorestamento de restingas à construção de diques e estruturas geotécnicas", em parceria com a Secretaria de Ciência e Tecnologia.

Participação do Rio na COP-30

Na COP-30, o Rio apresentará suas ações para reduzir emissões de CO2 e ampliar áreas verdes, envolvendo a sociedade civil nos debates climáticos. Entre as iniciativas da cidade estão os eventos de discussão sobre adaptação, como o Diálogos Locais, promovido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima.

"Queremos mostrar que estamos lidando com resíduos sólidos, como fizemos com a criação do aterro para resíduos da construção civil, criando soluções de reaproveitamento, acelerando a reciclagem e avançando no reflorestamento urbano. Temos uma agenda que envolve justiça climática, adaptação e educação ambiental", afirmou Tainá de Paula, que também destacou a Fábrica Verde, em Cordovil, voltada à transformação de resíduos em matéria-prima para novos produtos.

Futuro político

Urbanista e defensora da justiça climática, Tainá de Paula destaca o caráter social de suas políticas, com programas que aproximam a população periférica da educação ambiental. "Programas como Guardiãs das Matas e Cada Favela Uma Flor levam educação ambiental a territórios que antes não tinham acesso. São resultados da presença de uma mulher negra à frente da secretaria, construindo uma agenda mais justa e equitativa", afirma.

Reeleita em 2024 como a vereadora mulher mais votada do Rio, Tainá é pré-candidata a deputada federal em 2026: "Será um orgulho representar pautas ambientais em Brasília e continuar essa agenda de transformação", acrescentou, reafirmando o apoio a Eduardo Paes (PSD) para governador e Benedita da Silva (PT) para o Senado.