Por Paula Vieira
As suspeitas de intoxicação por consumo de bebidas adulteradas com metanol está impactando os bares e restaurantes de regiões conhecidas por atraírem grandes públicos na noite boêmia do Rio de Janeiro. Apesar de não haver caso confirmado na capital, quem frequenta os estabelecimentos mudou seu padrão de consumo, levando proprietários e funcionários a adotarem novas medidas.
A Vigilância Sanitária do Rio já fiscalizou 320 estabelecimentos, apreendendo mais de 100 garrafas de procedência duvidosa ou com coloração estranha. Ao menos 14 locais foram autuados, sendo interditados parcial ou totalmente. Nesta quarta-feira (8), os bares da Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, receberam a visita dos agentes.
A região do "Baixo Botafogo" costumava ter suas calçadas cheias de clientes nos finais de semana e em dia de jogos de futebol. Contudo, quem trabalha nos nos bares aponta queda no movimento e no consumo de destilados e drinks, com clientes optando na maioria das vezes por cerveja ou vinho. Inclusive, boa parte dos bares locais estão fazendo promoções para compensar.
Visão dos bares
"Houve uma mudança drástica. Nas sextas, costumávamos vender em torno de três a quatro litros de "51", pois trabalhamos com dose dupla de caipirinha. Hoje não estamos tendo pedidos de dose dupla. Quem vem, prefere ficar na cerveja e no chopp (...) a visita da fiscalização foi boa, porque pegaram as bebidas, analisaram as garrafas e as notas de compra. Nos deram um informativo que será exposto para os clientes ficarem mais seguros caso queiram tomar bebidas destiladas", disse Raiane, que trabalha no bar Bom de Copo.
Antônio, do Boteco Bizu Carioca, declarou que a venda de bebidas destiladas caiu de 60% a 70% desde o início, mas o aumento do consumo de cerveja está equilibrando as contas. Esse número é semelhante a queda apontada pelo Sindicato de Bares e Restaurantes.
"Os clientes estão deixando os destilados. Queremos que essa situação passe logo, porque nossas bebidas são verdadeiras, mas não temos como garantir isso ao cliente, porque eles ficam na dúvida. Caiu muito a venda de destilado, cerca de 60 a 70%. O público diminuiu pouco, mas optam pelo chopp e cerveja", afirmou Antônio.
Guilherme Luiz, do Baixaria Bar, informou que o estabelecimento adotou um olhar mais criterioso nas compras com fornecedores: "A vigilância sanitária passou por aqui e deu nota 10. Está tudo certo. Estamos tendo um olhar mais rigoroso para os nossos fornecedores de destilados e solicitamos que eles também tenham mais transparência".
Abrasel defende mais fiscalização nas grandes empresas
Questionado sobre a queda das vendas e os impactos dos casos suspeitos no setor, o conselheiro da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Roberto Maciel, declarou que a entidade identificou a queda nos destilados, mas a venda de cerveja gera uma compensação. O conselheiro defende que as grandes produtoras sejam fiscalizadas, não o comércio local.
"A Abrasel identificou uma queda maior em bares que vendem mais destilados. Os bares tradicionais, que vendem chopp e cerveja, tiveram essa queda dos destilados, mas aumentaram a venda de cerveja. Então, há uma compensação de forma que não mudou tanto. Os mais impactados são os bares que vendem somente destilados. Não adianta fiscalizar estabelecimento, tem que ir cima das empresas e fabricantes que estão sonegando. É difícil apontar um tempo para a situação acabar, porque não há uma prova da origem. Imagina que pode ser o PCC retaliando o combate à facção em São Paulo, pode ser um erro de fórmula por parte da fabricante. O caso é que nenhuma das garrafas analisadas pela Polícia Civil constata que foram contaminadas nos bares que estão sendo fiscalizados", concluiu.
Apesar de a cidade do Rio não ter casos suspeitos, no Estado do Rio de Janeiro já são cinco até o fechamento desta matéria, sendo dois em Cabo Frio, um em São Pedro da Aldeia, em Cantagalo e em Volta Redonda.