Por: Henrique Pires*

Meu amigo, Miguel

Tive a alegria de conhecer pessoalmente o Miguel em Pelotas, quando ele lecionou na UFPel, cedido pela UFRJ, da qual era professor concursado. Já o conhecia como artista renomado, celebridade internacional, detentor das mais altas comendas outorgadas a artistas no Brasil e fora dele.

Ficamos muito amigos, ele que era formado em odontologia - chegou a trabalhar em consultório - mas, dizia ele, era apaixonado por outro teclado, o do piano, tendo estudado muito e casado com a filha da professora, sua esposa Marli que também tocava muito bem.

Frequentei seu apartamento no Rio e sua casa em Búzios, que ele orgulhosamente apresentava a todos,pois achamos aberturas de uma antiga casa de Pelotas num depósito de uma velha demolidora e o Proença comprou portas, janelas, postigos e com base nessas compras, montou a bela casa com vitrais venezianos que ainda faz sucesso naquela praia fluminense.

Quando assumi a Secretaria Especial da Cultura do Brasil ,convidei o Miguel para presidir a Funarte e para alegria de todos ,ele aceitou ,encerrando sua carreira como gestor público na mais relevante fundação cultural do país, sediada no Rio de Janeiro.

Falávamos seguidamente por telefone, cada vez menos é verdade, mas lembro que me ligou faz algum tempo, mandando um abraço e rindo de algo que havia lembrado. Senti que era uma espécie de despedida, ele ria, lembrou de me ligar, mas já não lembrava o motivo da recordação alegre, apenas que eu estava com ele na situação que ele agora perdera nos escaninhos da memória. Miguel se vai, une- se mais uma vez a sua querida esposa e conterrânea Marli, que foi na frente, e deixa filhos e filha que seguem seus passos no campo da cultura.

Que descanse em paz, com as bênçãos do missioneiro São Miguel, seu protetor.

*Ex-secretário Nacional de Cultura