O ano de 2025 teve o A de Alexandre de Moraes, em um confronto direto com o B de Bolsonaro. E seguiu até o Z de Zambelli.
Para cada letra do alfabeto, há um nome ou uma situação que ajudam a resumir como foi o ano político que chega ao fim. Um ano que, para além das menções abaixo, terá também outras letras. Resumindo sempre tudo, há o D de Democracia. Um relatório da Corte Interamericana de Direitos Humanos divulgado na sexta-feira (26) destacou que o Brasil possui “instituições democráticas fortes e eficazes”, que se destacaram na defesa do país diante das ameaças de ruptura democrática que aconteceram.
Um país que, segundo a Corte, realiza “eleições livres e justas”. E elas novamente acontecerão em outubro de 2026.
Também ficou fora do ABC o L de Lula. Afinal, é em torno dele que orbita todo o jogo político, seja na busca de reelegê-lo no ano que vem, seja para derrotá-lo.
Na primeira parte dessa abecedário, mostramos como foi a política brasileira desde o A de Alexandra de Moraes até o M de Master, o banco que, ao quebrar, sacudiu a política brasileira. Na segunda parte, na quinta-feira (01), mostraremos como se deu esse resumo de N até Z.
Alexandre de Moraes
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) foi uma figura central nos acontecimentos do ano. Primeiro, como relator das ações que julgaram os atos golpistas. A partir das considerações de Moraes, a Primeira Turma do STF condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 28 envolvidos, segundo a acusação do procurador-geral da República, Paulo Gonet. Dois foram absolvidos. Ao final do ano, porém, Moraes de pedra virou vidraça, fustigado por suspeitas depois que foi descoberto um contrato milionário de defesa do Banco Master com o escritório de advocacia de sua esposa, Viviane Barci de Moraes.
Bolsonaro
O ex-presidente Jair Bolsonaro foi o grande contraponto das ações de Moraes. Condenado, passou a cumprir prisão em uma sala na sede da Polícia Federal, em Brasília. Na verdade, chegou à prisão ainda antes da condenação, quando tentou abrir, com um ferro de solda, sua tornozeleira eletrônica. Bolsonaro, porém, continua com voz ativa na política. Lançou seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), à Presidência da República, e a candidatura acabou desarrumando outros planos do campo conservador, especialmente do Centrão.
Centrão
O Centrão viveu um ano de altos e baixos. Sua jogada mais infeliz foi quando tentou aprovar, na Câmara, a PEC da Blindagem. O projeto, que dificultaria a condenação de políticos, gerou grande reação e acabou fazendo a esquerda retomar a capacidade de mobilização popular. O projeto acabou reprovado no Senado por unanimidade. Em outros momentos, porém, o grupo manteve sua capacidade de pressionar o governo. Mas terminou o ano levando uma rasteira de Bolsonaro com o lançamento da candidatura de seu filho, Flávio, à Presidência. O grupo perdeu, com isso, o controle do processo político com que sonhava.
Donald Trump
O presidente dos Estados Unidos acabou se tornando figura central da política brasileira ao impor um tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros. A ação de Trump foi motivada pelo ex-deputado Eduardo Bolsonaro, que esperava que pressões vindas dos EUA pudessem inibir a justiça brasileira no propósito de condenar seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Nada saiu como Eduardo pretendia. A condenação de Bolsonaro seguiu seu rumo. As pressões de Trump tiveram o efeito de aumentar a popularidade de Lula. Trump recuou do tarifaço. E Eduardo acabou tendo seu mandato de deputado federal cassado pelo excesso de faltas por sua excursão aos Estados Unidos.
Eduardo Bolsonaro
O deputado é, provavelmente, o autor do plano mais frustrado de 2026. Eduardo Bolsonaro deixou o país e foi para os Estados Unidos imaginando que conseguiria fazer com que o presidente Donald Trump, de lá, conseguisse pressionar a Justiça brasileira para livrar seu pai da prisão. Trump estabeleceu um tarifaço de 50% sobre os produtos brasileiros como forma de pressão. O primeiro problema: a defesa dos interesses nacionais fez a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva subir. O segundo problema: o tarifaço gerou prejuízos econômicos para Trump. Ao final, o presidente dos EUA desistiu das taxas e negociou com Lula. E Jair Bolsonaro acabou condenado e preso.
Flávio Bolsonaro
Se a prisão de Bolsonaro gerou prejuízos para ele e sua família, um dos integrantes do clã acabou de certa forma beneficiado. Ao final, Jair Bolsonaro ungiu seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, candidato à Presidência da República. O lançamento fez Flávio saltar para o segundo lugar na disputa, atrás apenas de Lula, desarrumando as chances de outros nomes da direita, especialmente o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). E também de sua madrasta, Michelle Bolsonaro. As pesquisas, porém, apontam que o grande problema que Flávio terá de reverter até outubro é a sua alta rejeição.
Galípolo
Enquanto o Banco Central era presidido por Roberto Campos Neto, escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, o presidente Lula o criticava duramente por manter altas as taxas de juros. Em agosto do ano passado, Lula indicou Gabriel Galípolo para o lugar de Campos Neto. Mas a política monetária do Banco Central muito pouco mudou. As taxas de juros continuaram altas.
Hugo Motta
Para se eleger presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), fez como a Dona Flor de Jorge Amado. Arranjou dois maridos, casou-se tanto com o governo quanto com a oposição. Sua condução acabo refletindo essa ambiguidade. O problema maior para Motta foi a sensação que ambos os lados tiveram de ser traídos. Na condução do processo de cassação de Glauber Braga (Psol-RJ), que acabou não acontecendo, perdeu o apoio mesmo de seu maior aliado e guru, Arthur Lira, que chegou a dizer que tudo fora uma “esculhambação”.
Ibaneis
O governador do Distrito Federal tem planos ambiciosos para 2026. Almeja uma vaga no Senado e a eleição de sua vice-governadora, Celina Leão, para sucedê-lo. Há, porém, algumas situações que podem atrapalhar seus planos. A primeira é a possível candidatura de José Roberto Arruda (PSD) ao governo. Ele tem chances reais de atrapalhar os planos de Ibaneis e Celina. A segunda foi a pretensão da deputada Bia Kicis (PL) a uma das vagas para o Senado. Finalmente, Ibaneis viu-se fustigado pelo escândalo do Banco Master, com o envolvimento do Banco de Brasília (BRB), que pretendia comprá-lo.
José Roberto Arruda
As mudanças na Lei da Ficha Limpa beneficiaram o ex-governador do DF José Roberto Arruda. Com essas mudanças, Arruda deixou de ser inelegível. E voltou ao jogo político. Filiou-se ao PSD para disputar o Governo do Distrito Federal. As pesquisas mostram que com boas chances.
Kassab
O presidente do PSD segue fiel ao que se propôs ao criar o partido que comanda: não ser nem de esquerda nem de direita, assumindo uma posição ao centro que lhe permita a chance de estar dentro de qualquer projeto político. Assim, o PSD mantém ministério e políticos próximos ao governo Lula. Participa também do governo de Tarcísio de Freitas em São Paulo. E ainda tem seu próprio nome para a Presidência da República, o governador do Paraná, Ratinho Jr.
Luiz Fux
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) surpreendeu a Corte com uma guinada no julgamento das ações da trama golpista. Depois de ajudar a condenar centenas de envolvidos nos atos do dia 8 de janeiro, Fux mudou de rumo ao julgar os integrantes do “núcleo crucial” da trama. Acabou por votar para absolver o ex-presidente Jair Bolsonaro e os demais integrantes. Sua posição ficou isolada na Primeira Turma. Sem ambiente, ele acabou pedindo para ser transferido para a Segunda Turma, onde atuam os dois nomes que foram indicados ao STF por Jair Bolsonaro: André Mendonça e Cássio Nunes Marques.
Master
O processo de liquidação extrajudicial do Banco Master levou a um grande escândalo financeiro, com reflexos na política. Um dia antes da liquidação, decretada pelo Banco Central, o dono do Master, Daniel Vorcaro, chegou a ser preso. O caso teve reflexos na política do Distrito Federal, porque o Banco de Brasília (BRB) pretendia comprar o Master. As operações ainda estão sob investigação. E bateu também no Supremo Tribunal Federal (STF). Relator do caso no STF, o ministro Dias Toffoli viajou em um jatinho com o advogado do banco para ver a final da Taça Libertadores no Peru. E foi encontrado um contrato milionário do banco com o escritório de advocacia da esposa de Alexandre de Moraes, Viviane Barci.