Após a confusão durante a votação do PL da dosimetria, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), tornou-se alvo de críticas pelo seu comportamento à frente da Casa. Nos bastidores, parlamentares avaliam que o episódio agravou o desgaste político que o deputado já vinha acumulando em razão de suas recentes decisões.
Na terça-feira (9), Motta determinou que a Polícia Legislativa retirasse à força o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) da cadeira da Presidência da Câmara, ordem que acabou sendo cumprida de maneira agressiva. Além de Glauber, outros parlamentares da base governista também relataram ter sido empurrados e agredidos durante a operação.
Do lado de fora do plenário Ulysses Guimarães, jornalistas foram igualmente agredidos, o que gerou forte repercussão na imprensa. Motta afirmou que não havia autorizado a atuação violenta da segurança e pediu desculpas aos profissionais.
Censura
Durante o tumulto, o sinal da TV Câmara foi interrompido, o que foi interpretado por deputados e entidades de imprensa como um ato de censura, segundo bastidores a atitude foi mais um pedido de Motta.
O desgaste aumentou após o presidente convidar jornalistas para uma reunião de retratação. Inicialmente, Motta disse que o encontro seria realizado em seu gabinete; depois, informou que ocorreria na Residência Oficial. O convite previa apenas cinco profissionais, número considerado insuficiente, já que mais de 12 jornalistas relataram ter sido agredidos. Diante da repercussão negativa, a reunião acabou adiada e só ocorreu três dias após o episódio.
Para a especialista em direito criminal Mariana Tripode, o gesto agrava a leitura de desorganização: "As cenas são chocantes. Ver jornalistas e parlamentares agredidos em uma Casa que, há pouco tempo, sofreu uma tentativa de golpe, marca negativamente a história do Parlamento", afirma.
Padrinho
O padrinho político de Motta, o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), não aprovou a forma como o sucessor conduziu o caso Glauber Braga. Deputados afirmam que Lira demonstrou irritação, classificou a operação como amadora e cobrou explicações. Para aliados do alagoano, a ação no plenário foi "desnecessária e mal calibrada", ampliando o desgaste do novo presidente.
Em conversas reservadas, Motta tem desabafado estar "cansado de ser refém das polêmicas entre esquerda e direita"