Por: Beatriz Matos

Tensão entre Senado e Planalto diminui com gesto de Alcolumbre

Alcolumbre acena bandeira branca para Lula | Foto: José Cruz/Agência Brasil

A crise entre o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu sinais de arrefecimento na última sexta-feira (5). Durante a inauguração do primeiro Centro de Radioterapia do Amapá, Alcolumbre fez elogios públicos ao presidente e agradeceu o apoio do governo federal ao estado.

O gesto, visto como simbólico de distensão, ocorreu diante de ministros e lideranças políticas. Alcolumbre também destacou a atuação do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e direcionou um recado direto ao presidente: “Leve meus agradecimentos pessoal e institucional ao presidente da República, que tem nos apoiado e apoiado o Amapá a toda instância.”

O elogio público surge após divergências no Congresso em torno da indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal (STF), que contrariou o desejo de parte do Senado, incluindo Alcolumbre, que preferia o nome do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Recuo calculado

A mudança de postura de Alcolumbre, ao elogiar Lula em um evento público, foi interpretada como um recuo calculado. Para o sociólogo Clésio Arruda, o tensionamento dos últimos dias era difícil de se sustentar. “Sustentar essa tese era praticamente impossível, porque estaríamos criando uma situação de inversão da lógica de funcionamento dos poderes”, afirma. Ele explica que cabe ao Executivo indicar o ministro do Supremo, enquanto ao Senado compete sabatinar e aprovar ou rejeitar o nome, mas não disputar protagonismo nesse processo.

Segundo Clésio Arruda, o embate também deve ser lido à luz do contexto mais amplo das investigações envolvendo emendas parlamentares e da aproximação do calendário eleitoral. “Existe uma luta anterior, uma tentativa de se empoderar para impedir o avanço dessas investigações”, diz. Para o especialista, o desgaste atinge parlamentares de destaque e cria desconforto dentro do Legislativo, especialmente diante de denúncias que podem inviabilizar candidaturas em 2026.

Para a jornalista e cientista política Grazielle Albuquerque, o gesto de Alcolumbre no Amapá deve ser lido como um movimento calculado para reduzir o atrito. Segundo ela, “Alcolumbre falou em público porque sabia da repercussão.” Ela ressalta, porém, que ainda é cedo para saber se a mudança terá impacto direto na aprovação de Messias. “Se isso vai se efetivar em alguma facilidade para a aprovação de Messias, é cedo para dizer.”

Grazielle Albuquerque lembra que a crise se agravou em meio a outras tensões institucionais, como a decisão do ministro Gilmar Mendes de restringir ao procurador-geral da República a possibilidade de apresentar pedidos de impeachment contra ministros do Supremo. Para ela, episódios como esse ajudam a explicar por que a disputa em torno da indicação ganhou dimensão política. “A situação agora parece mais acentuada pela postura de Alcolumbre pouco afeita a negociações e mesmo por questões de entorno”, afirma.

Sabatina

A sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), marcada para 10 de dezembro, acabou adiada. O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), confirmou que a análise da indicação ficará para o ano que vem.

O adiamento amplia o prazo para que Messias encerre a rodada de conversas com senadores e busque os votos necessários na Comissão de Constituição e Justiça e no plenário. Além de ser aprovado na sabatina da CCJ, o indicado também precisa ter o nome confirmado no Plenário, com maioria absoluta de votos, ou seja, aprovação de pelo menos 41 senadores. Antes, com o prazo apertado, ele intensificou as articulações no Senado. Mesmo em momentos de esvaziamento da Casa, percorreu gabinetes, conversou com senadores e fez o tradicional “beija-mão” em busca de consolidar apoios.