Após a Cúpula de Líderes, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30) foi oficialmente iniciada nesta segunda-feira (10), em Belém (PA). E com o início do maior evento global ambiental, o Brasil terá o desafio de implementar e vencer as resistências de países que ainda se manifestam contrários ao Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, sigla em inglês para o evento). Países como Alemanha, Reino Unido, Espanha e Estados Unidos (EUA) apontam desconfiança de que a proposta brasileira resulte em riscos financeiros.
Durante evento da COP nesta segunda-feira, a China voltou a defender que países desenvolvidos arquem com os maiores valores para o fundo. O país se manifestou politicamente favorável ao Brasil, porém, até o momento, evitou se comprometer financeiramente com o fundo. As informações são da Folha de São Paulo.
O fundo
O fundo foi anunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na última semana. A medida cria um financiamento climático conjunto que, na prática, servirá como um incentivo financeiro para países que preservarem suas florestas tropicais, tornando a conservação economicamente mais vantajosa do que a devastação ambiental. O governo brasileiro prevê inicialmente alcançar US$ 25 bilhões com as adesões dos países e chegar a US$ 125 bilhões com o capital privado.
De acordo com o Ministério da Fazenda, a captação de recursos será feita a juros reduzidos como um ativo de baixo risco. Esses recursos serão reinvestidos em projetos com maior taxa de retorno, gerando lucro. A diferença será repassada aos países com florestas tropicais, proporcionalmente à área preservada. O dinheiro que foi emprestado será devolvido aos investidores com lucro.
Em seu discurso na abertura da COP 30, nesta segunda-feira (10), Lula detalhou os planos do Fundo de Florestas Tropicais, elaborado na Cúpula de Belém pelo Clima na última semana. “Lançamos o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre, um mecanismo inovador que angariou, num só dia, US$ 5,5 bilhões em anúncios de investimento. Adotamos compromissos coletivos sobre: o manejo integrado do fogo; o direito à posse da terra por povos indígenas e tradicionais; a quadruplicação da produção de combustíveis sustentáveis; a criação de uma coalizão sobre mercados de carbono; o alinhamento da ação climática ao combate à fome e à pobreza; e a luta contra o racismo ambiental”, detalhou o presidente brasileiro.
Até o momento, países que se manifestaram para contribuir com o Fundo Florestas Tropicais, além do Brasil que investiu US$ 1 bilhão, são Portugal, Noruega, França e Indonésia. Em entrevista à CNN Brasil, o ministro da Fazenda Fernando Haddad disse que a pasta estima que o TFFF arrecade mais de US$ 10 bilhões. Atualmente, o fundo conta com o aporte de US$ 5,6 bilhões.
Desigualdades
Na abertura da COP 30, o presidente Lula criticou o maior investimento com guerras e conflitos armados entre países do que no combate ao aquecimento global. “Se os homens que fazem guerra estivessem nesta COP, eles iriam perceber que é muito mais barato colocar US$ 1,3 trilhão para acabar com um problema do que colocar US$ 2,7 trilhões para fazer guerra como fizeram ano passado”, ele criticou.
Para reforçar seu ponto sobre o perigo das mudanças do clima, Lula citou os três tornados que atingiram a cidade de Rio Bonito do Iguaçu e Guarapuava, ambos no Paraná, que mataram ao menos cinco pessoas, além das cidades destruídas. A passagem de três tornados, que começaram na última sexta-feira (7), foram confirmadas pelo Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar) nesta segunda-feira.
“A mudança do clima já não é uma ameaça do futuro, é uma tragédia do presente. O furacão Melissa que fustigou o Caribe e o tornado que atingiu o Estado do Paraná, no Sul do Brasil, deixaram vítimas fatais e um rastro de destruição. Das secas e incêndios na África e na Europa às enchentes na América do Sul e no Sudeste Asiático, o aumento da temperatura global espalha dor e sofrimento, especialmente entre as populações mais vulneráveis”, destacou o presidente.
Na mesma linha dos desastres no Sul do país, a ministra do Meio Ambiente e Mudança Climática, Marina Silva, reiterou que a fome, a crise climática e a desigualdade social precisam ser combatidas juntas. “As pessoas perdem seus sistemas alimentares, locais de trabalho, quando tem uma enchente, quando tem um tufão ou um furacão, agravado pela mudança do clima, como aconteceu agora no Paraná, onde uma cidade inteira foi arrasada com perdas de vida. Elas ficam mais vulneráveis”, citou a ministra, a qual reforçou que o enfrentamento das desigualdades juntamente com o enfrentamento das mudanças climáticas são “o único caminho para lidar com os dois problemas com eficiência”.