Por: Sabrina Fonseca

Reunião com Donald Trump abre caminho para acordo

Trump e Lula tiveram reunião no domingo (26) na Malásia | Foto: Daniel Torok/White House/Fotos Públicas

Por Sabrina Fonseca

Embora ainda não exista, de fato, um acordo entre Brasil e Estados Unidos sobre as tarifas impostas pelo país norte-americano a produtos brasileiros, as negociações entre os representantes dos dois governos começaram na segunda-feira (27), um dia após a reunião entre os dois líderes, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump (Republicano).

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que os dois países estabelecerão um cronograma de negociações para chegar a um consenso sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos. A expectativa do governo brasileiro é que o tema seja concluído já em novembro.

Ainda na segunda-feira (27), Trump parabenizou Lula pelo 80º aniversário do presidente brasileiro. "Tivemos uma reunião muito boa", disse Trump. "Não sei se alguma coisa vai acontecer, mas veremos. Eles gostariam de fazer um acordo. Vamos ver, agora mesmo eles estão pagando, acho que 50% de tarifa. E quero desejar feliz aniversário ao presidente — hoje é o aniversário dele. Ele é um cara muito vigoroso, na verdade, e foi muito impressionante", declarou Trump.

Lula e Trump

O presidente Lula se reuniu no domingo (26), à tarde — madrugada no Brasil —, em Kuala Lumpur, na Malásia, com o presidente Trump. O encontro marcou a primeira conversa oficial entre os dois líderes desde que o país norte-americano impôs ao Brasil tarifas de 50% sobre produtos exportados.

A reunião durou cerca de uma hora. Após o encontro, Lula afirmou em suas redes sociais que a conversa foi "ótima" e que, em breve, haverá soluções para as tarifas e sanções contra autoridades brasileiras. Já Trump havia declarado, antes do encontro, que chegaria "rápido" a uma conclusão sobre o tema e que os Estados Unidos e o Brasil vão "fazer bons acordos".

Repercussão

A reunião entre Lula e Trump repercutiu entre representantes brasileiros. O presidente em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), considerou o encontro "muito positivo".

"Eu acho que foi muito positivo. O diálogo se estabelece e, agora, se aprofunda", avaliou. "Agora é avançar nas questões técnicas, tributárias e não tributárias, além das oportunidades de investimento no Brasil e nos Estados Unidos e na complementaridade econômica", afirmou Alckmin.

Ele também criticou as tarifas impostas pelos Estados Unidos e reforçou que o foco do governo é derrubar as taxas.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), destacou que a relação entre Brasil e Estados Unidos é "histórica" e "estratégica".

"Avalio de forma muito positiva o encontro realizado hoje, na Malásia, entre o presidente Lula e o presidente Donald Trump. A relação de amizade entre Brasil e Estados Unidos é histórica e estratégica. Cumprimento todos os atores que contribuíram para que chegássemos a este momento, que representa um marco importante de um processo que continua. O gesto de diálogo e a busca pelo bom entendimento são fundamentais para o fortalecimento das relações e para o avanço da cooperação entre as nações. O Congresso Nacional permanece atento e unido na defesa do diálogo e da diplomacia como caminhos para construir consensos e aproximar nossos povos", afirmou Alcolumbre, em nota.

Já o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), declarou estar "feliz" em ver as relações entre os dois países retomarem o diálogo.

"Cumprimento os presidentes Lula e Donald Trump pelo importante encontro de hoje. Fico feliz em ver que o diálogo e a diplomacia voltam a ocupar o centro das relações entre Brasil e Estados Unidos. Quando líderes escolhem conversar, a História agradece", disse Motta.

"Oportunidade"

O Correio da Manhã conversou com o cientista político Jackson De Toni, que avaliou que "as negociações terão foco na área econômica e comercial, mas o lado americano ainda não demonstrou uma clareza muito grande sobre uma lista específica de pedidos. Isso representa uma oportunidade para o Brasil, que pode e deve pautar a conversa bilateral. Os pedidos brasileiros incluem a reversão total ou temporária do 'tarifaço americano' e a retirada das sanções Magnitsky contra autoridades brasileiras. Em vez de apenas apresentar pedidos, o Brasil pode precisar inverter a lógica negocial ao apresentar ofertas e possíveis barganhas. Para que o processo avance rapidamente, o governo brasileiro deve se engajar em uma pauta que leve a grandes números e grandes anúncios, algo valorizado pelo presidente Trump. Áreas promissoras para um acordo célere incluem minerais críticos (importantes para a segurança nacional dos EUA), etanol e até mesmo a compra de equipamentos de defesa."

"O desafio agora reside em manter o otimismo gerado pelo encontro e fazer com que as instâncias técnicas mapeiem rapidamente as 'linhas vermelhas' — limites inegociáveis — e as possíveis barganhas. O fato de o presidente Trump ter evitado publicamente temas sensíveis, como a Venezuela, e o presidente Lula ter sinalizado que 'tudo está sobre a mesa', indica uma disposição inicial para negociar. A velocidade do avanço dependerá, fundamentalmente, do progresso das tratativas técnicas de comércio exterior, que ocorrerão nas conversas de segundo e terceiro escalão", completou.