Por: Gabriela Gallo

Lula e Trump devem finalmente se encontrar no domingo

Primeiro encontro de Trump com Lula foi na ONU | Foto: Mark Garten/Fotos Públicas

O encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano), aparenta estar cada vez mais próximo. Nesta terça-feira (21), o presidente brasileiro embarca para a Indonésia e depois seguirá para Kuala Lumpur, capital da Malásia, onde ambos os chefes de Estado participarão da cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). A previsão é que a presença de ambos na cúpula possibilite finalmente a primeira reunião bilateral entre os dois, possivelmente neste domingo (26).

Como fora adiantado pelo Correio da Manhã, o encontro entre os presidentes do Brasil e dos EUA será realizado na Malásia por este ser considerado um país neutro. Ao Correio da Manhã, a professora de Relações Internacionais na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Regiane Bressan avaliou que esse encontro num país “neutro” reforça um posicionamento de independência e força vindo do Brasil.

“Acontecendo negociações na Malásia, o Brasil está mostrando a Trump que não está preso à América Latina ou ao Ocidente. Está buscando novas parcerias, novas estratégias, novos mercados, novas oportunidades ao Brasil. Então, o encontro acontecer lá é uma forma de o Brasil dizer: ‘Olha, nós estamos aqui participando desse tipo de iniciativa para ampliar nossas relações e não nos desgastarmos ainda mais com os Estados Unidos’”, avaliou Bressan.

Temas

A professora de Relações Internacionais ainda destacou que a expectativa é que os principais temas que serão discutidos entre os presidentes serão “questões comerciais”, especialmente relacionadas à redução das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. “Trump gosta de grandes estadistas, a gente está percebendo isso de maneira não objetiva nos encontros que ele teve com Putin e com outras lideranças. Aliás, percebemos que com Zelensky não há muita admiração, diferentemente do que aconteceu entre Trump e Lula. É muito importante também dizer que o Brasil deve tentar uma postura pragmática, ou seja, a partir dos seus interesses na região, o Brasil vai assinalar a Trump que pretende negociar o tarifaço sem abrir mão das negociações dentro da Asean”, destacou a professora.

A reportagem ainda conversou com o professor de Relações Internacionais e diretor do Ibmec Brasília Ricardo Caichiolo que, na mesma linha, completou que “Lula deve buscar a suspensão ou, no mínimo, a redução dessas tarifas”.

“Além disso, é provável que Lula utilize o encontro para reforçar a defesa da América Latina como uma ‘zona de paz’, conforme ele já manifestou anteriormente, e expressar a crítica brasileira a intervenções estrangeiras na região. Por fim, talvez haja também menção à pauta da COP-30”, ponderou Caichiolo ao Correio, referindo-se à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que acontece no mês que vem em Belém (PA).

Questionado pela reportagem, o cientista político internacional e pesquisador da Universidade de Helsinque (Finlândia) Kleber Carrilho avaliou que a negociação buscará um consenso que chegue a um “meio-termo” nos interesses do Brasil e dos EUA.

“Duvido que haja uma concessão geral dos Estados Unidos e que não haja nenhuma concessão do Brasil, porque ficaria complicado ter essa reunião. Eu acho que vai ser algo no meio do caminho. Agora, a chance de não se chegar em um acordo é difícil”, avaliou Carrilho. Uma das justificativas dadas por Trump para taxar o Brasil foi uma crítica direta do estadunidense ao julgamento do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF).

“A possibilidade dessa reunião, inclusive, se deu por motivos específicos. A tendência então é que haja um acordo, uma conversa, uma aproximação. Eu acho que vai vir algum anúncio de diminuição [das tarifas], vai ter talvez alguma questão do etanol por parte da reserva de mercado do Brasil, ou algum acordo inicial das chamadas terras raras”, ponderou o cientista político ao Correio da Manhã. As “terras raras” são áreas de exploração de minerais utilizados na produção de componentes eletrônicos.

Na mesma linha, o professor de Relações Internacionais considera difícil que seja firmado um acordo para a revogação total das tarifas. Porém, elas poderão ser parcialmente revogadas. “Embora Trump seja assertivo com as tarifas, ele também usa a tática como poder de barganha. A suspensão ou redução das tarifas pode ser vendida internamente nos EUA como um sucesso de negociação que corrigiu injustiças e abriu novas portas para o comércio americano. É possível que seja firmado um acordo que preveja a suspensão temporária das tarifas americanas, enquanto as equipes técnicas avançam em um acordo mais abrangente”, disse Ricardo Caichiolo.