Por: Sabrina Fonseca

Ibama autoriza exploração da Foz do Amazonas

Ambientalistas temem risco à pesca das comunidades | Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

A Petrobras anunciou, na segunda-feira (20), a autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para perfuração de um poço exploratório localizado na Foz do Amazonas, na Margem Equatorial brasileira. O objetivo da operação é pesquisar petróleo e gás nessa região, já que a área é apontada como uma possível nova fronteira de exploração.

O Ibama informou que a permissão foi liberada após a Petrobras realizar uma série de aprimoramentos em seu projeto. A estatal, por sua vez, garantiu ter demonstrado a plena capacidade e solidez de seu aparato de preservação ambiental que será empregado durante a perfuração.

A Petrobras também garante que o desenvolvimento de novas áreas de exploração é crucial para garantir tanto a segurança energética nacional quanto os fundos necessários para uma transição energética justa. Além de que, de acordo com a organização, existe a possibilidade de gerar empregos, aumentar a arrecadação e participação de um desenvolvimento regional e nacional.

Comemorações

A autorização do Ibama dada à Petrobras foi vista como positiva por algumas figuras políticas, especialmente da região Norte. Como por exemplo, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que ter recebido com “entusiasmo” o anúncio e que a decisão marca um “passo histórico para o desenvolvimento do Brasil”, em especial para o seu estado, o Amapá.

“Recebo com grande entusiasmo a autorização do Ibama para a pesquisa exploratória Margem Equatorial. Essa decisão marca um passo histórico para o desenvolvimento do Brasil, em especial para o meu estado, o Amapá, e para toda a região Norte.Trata-se de uma conquista que consagra a boa técnica, o diálogo e a responsabilidade, valores que sempre defendi ao longo dessa caminhada. O Brasil tem condições de explorar suas riquezas naturais de forma responsável, com segurança e transparência. A autorização do Ibama reafirma que é possível conciliar crescimento econômico e preservação ambiental, garantindo que os benefícios dessa atividade cheguem às populações locais e fortaleçam a soberania energética nacional”, comemorou Alcolumbre.

Já o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), disse que a decisão é um “dia histórico” para o Amapá e para a transição energética do Brasil. A defesa da exploração de petróleo na Foz do Amazonas foi o motivo que levou Randolfe a deixar a Rede, pelas divergências com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Marina é uma posição contrária à exploração dentro do governo. Ela não se pronunciou sobre o anúncio do Ibama.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, declarou que a exploração da região é o “futuro da nossa soberania energética”.

A pesquisa de petróleo na Foz do Amazonas é um conjunto de estudos e atividades técnicas voltadas a descobrir se há petróleo e gás natural na região onde o rio Amazonas encontra o oceano Atlântico, entre os estados do Amapá e do Pará.

O processo envolve a coleta de dados geológicos e sísmicos para identificar possíveis reservatórios de petróleo no subsolo marinho e, caso haja indícios promissores, a perfuração de poços exploratórios.

Riscos

O objetivo é avaliar o potencial econômico da área e determinar se a exploração comercial seria viável. No entanto, o tema é cercado de controvérsias. De um lado, defensores afirmam que a exploração poderia gerar empregos, arrecadação e desenvolvimento regional. De outro, ambientalistas alertam para os riscos que um eventual vazamento de óleo traria a ecossistemas sensíveis, como recifes de corais, manguezais e espécies marinhas que vivem na região. Por isso, a pesquisa na Foz do Amazonas é vista como uma questão que envolve tanto interesses econômicos quanto a necessidade de preservar o meio ambiente.

Para a professora de inovação e sustentabilidade do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), Hannah Salmen, a área tem espécies em extinção e riscos a comunidades de povos originários que vivem na região.

“A região abriga cinco espécies de tartarugas-marinhas ameaçadas, além de diversas aves e mamíferos marinhos em risco de extinção. Há também riscos a comunidades de povos originários do litoral do Amapá, cerca de 13 mil pessoas em 56 comunidades. Esses povos dependem da pesca artesanal, dos manguezais e dos rios para subsistência, e qualquer contaminação da fauna ou alteração dos ecossistemas pode comprometer seus modos de vida”, disse.

“Este projeto [exploração da Foz do Amazonas] reflete o dilema cada vez mais presente na agenda mundial que é a conciliação entre crescimento econômico e conservação ambiental. Existe um potencial bilionário de desenvolvimento em uma das zonas mais sensíveis e culturalmente ricas do planeta, mas é fundamental que siga rigor técnico, transparência e capacidade de proteger e regenerar os espaços afetados e ao mesmo tempo garanta as melhores oportunidades de desenvolvimento para as futuras gerações do Amapá e Pará, estados que possuem baixos indicadores de desenvolvimento socioeconômicos e carecem de diversificação em suas matrizes econômicas”, completou.