O ex-governador do Ceará e ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes anunciou sua saída do PDT, A saída foi uma reação ao fato de o partido ter resolvido se aproximar do governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), a quem Ciro faz oposição.
Ciro encaminhou uma carta nesta sexta-feira (17) ao presidente do PDT, Carlos Lupi, comunicando o seu desligamento do partido. Na noite de sexta-feira, o presidente estadual do PSDB no Ceará, Ozires Pontes, anunciou a filiação de Ciro Gomes ao partido. A previsão é que ele seja oficialmente filiado ao partido nesta quarta-feira (22) em um hotel em Fortaleza. Além disso, de acordo com Pontes, “em poucos dias ou em poucos meses, o próprio Ciro Gomes vai anunciar a candidatura dele ao governo do Ceará”.
Ao Correio da Manhã, o cientista político Isaac Jordão destacou que a saída de Ciro do PDT não é novidade, considerando que o próprio cogitava sair do partido há um tempo. Ele destacou que, nas vezes em que concorreu à presidência da República pelo PDT, em 2018 e 2022, Ciro sempre procurou “estabelecer um ponto de oposição ao PT”.
“Ele nunca se colocou como candidato de direita, mas ele sempre se colocou como candidato neo-desenvolvimentista, mas a intenção dele era fazer uma candidatura especificamente anti-PT”, destacou Jordão. Nesse sentido, era difícil Ciro, que foi ministro da Integração Nacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu primeiro governo, aceitar uma reaproximação.
Partidos
Isaac Jordão ainda destacou que a chegada de Ciro ao PSDB é um boa novidade para o partido que enfrenta crises e “está procurando quadros”.
Em compensação, Jordão ainda ponderou que a saída de Gomes do PDT pode ser benéfica ao partido. “O Ciro tem uma história política no Brasil que dá para ele o respaldo de ser uma liderança intelectual e política no partido. Mas é notório que o Ciro é uma pessoa de difícil trato. Ele briga constantemente com os aliados, tanto que ele está rompido com o irmão [senador Cid Gomes, PSB-CE]. Ele enfiou o PDT em uma derrota no Ceará quando não quis apoiar o Elmano na sucessão do Camilo Santana. Então, acho que, do ponto de vista de capacidade estratégica, pode até ser positivo para o PDT perder uma figura tão polêmica quanto é o Ciro”, avaliou o cientista político para a reportagem.
Por outro lado, a especialista em Relações Governamentais da BMJ Consultores Associados Gabriela Santana avalia que a saída dele “pode afetar a dinâmica interna do partido, especialmente entre seus aliados que permanecem na legenda e que também desaprovam o apoio do PDT tanto ao governo federal, como no governo do Ceará”.
“O partido, em um primeiro momento, sai enfraquecido com a saída de Gomes da legenda, pois ele ainda é um nome expressivo na política brasileira”, ponderou Santana ao Correio da Manhã.
A reportagem ainda conversou com o cientista político e professor do Ibmec Belo Horizonte Adriano Cerqueira, para quem a saída de Ciro evidencia os posicionamentos do PDT frente ao governo. “O PDT está assumindo, assim, uma postura de maior aderência junto a Lula e ao petismo. Deve ficar um partido orbitando em torno do Lula, com a muito provável candidatura de Lula para a reeleição ano que vem, então se afastando de uma postura mais independente que tinha alcançado sobre a liderança de Ciro Gomes”, avaliou o professor.
Candidatura
Considerando que Ciro Gomes de fati anuncie sua candidatura para o governo do Ceará, Gabriela Santana considera que “existe uma boa chance de que ele seja eleito, dado seu reconhecimento e apoio na região”.
“O cenário político local pode favorecê-lo, especialmente se ele conseguir se distanciar das controvérsias nacionais e focar nas questões que são relevantes para o eleitorado cearense”, ela destacou.
“Alguns bastidores dão que Ciro ainda não desistiu da corrida presidencial, apesar das declarações do político. Não acho que ele refutaria a candidatura à Presidência se houver uma boa conformação política viabilizando sua possível eleição”, completou Gabriela Santana.
Adriano Cerqueira concorda que Ciro tem chances de concorrer para o governo do Ceará, mas avalia que ele não terá tantas chances em uma candidatura presidencial. “Não sei se ele terá condições de alçar voos maiores, como uma nova candidatura à eleição presidencial. Só que a eleição presidencial da parte da oposição do qual o Ciro Gomes agora está se colocando ainda está muito indefinida, o cenário está muito bagunçado na minha avaliação. Então não seria surpreendente caso o Ciro Gomes resolvesse investir novamente numa candidatura presidencial”, disse o cientista político.