O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, se encontrou, na quinta-feira (16), na Casa Branca, em Washington, com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, para debater a possibilidade de fim do tarifaço imposto sobre os produtos brasileiros pelo presidente Donald Trump (Republicanos).
Em uma coletiva de imprensa após a reunião, o chanceler brasileiro declarou que, primeiramente, houve uma rápida reunião de 15 minutos apenas entre ele e Rubio, e classificou essa conversa como “muito produtiva”. Em seguida, aconteceu uma segunda reunião de cerca de quase uma hora com membros do governo americano e do governo brasileiro, que foi definida como “clima de descontração”. Todo esse clima, avalia-se, poderá levar a uma reversão – ou, pelo menos, redução – das sobretaxações impostas pelos EUA.
Vieira ainda deixou em aberto que poderá vir ainda a acontecer um encontro entre Lula e Trump em breve.
A reunião se deu após um longo período de desgaste entre os dois países. Ao impor a sobretaxação, o presidente dos Estados Unidos tentou interferir no processo judiciário brasileiro para defender o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos e três meses, por tentativa de golpe de Estado após as eleições presidenciais em 2022. A pressão de Trump não teve efeito. E muitos avaliam que as taxas impostas também teriam prejudicado a própria economia norte-americana.
Diálogo aberto
O Correio da Manhã falou com o doutor em ciência política, Leandro Gabiati, que declarou que o diálogo entre as duas diplomacias está aberto e isso vai permitir avanços nas negociações.
“O maior receio que se tinha era que a reunião fosse num clima negativo. Considerando, principalmente, que estamos falando do Rubio, que é um chanceler, um secretário de Estado ideologicamente muito conservador”, observa.
Havia, assim, um receio de uma reunião reativa e mais dura. “Então, o primeiro fato relevante é que a reunião ocorreu em bom clima”, completou Gabiati.
Detalhes
Apesar de ter dito que tudo transcorreu em bom clima, Vieira não detalhou o que foi negociado com Rubio. Se a conversa, como se especulou, de fato girou em torno da exploração de terras raras no Brasil, sobre Venezuela, sobre o uso do dólar nas transações do Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul e outros países) ou outros temas.
“Acho que estava, assim, por ser o primeiro contato entre os dois”, avalia Gabiati. “Está claro que houve uma discussão de assuntos, talvez apresentação de agendas de cada lado, mas não uma negociação sobre cada agenda. Simplesmente as partes apresentaram seus assuntos de interesse.”.
Como sinalizou-se a possiblidade de um encontro entre Lula e Trump, o mais provável é que uma negociação concreta de temas envolva essa conversa entre os dois presidentes. Há a possibilidade de que essa reunião aconteça na Ásia, numa reunião da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). “O importante é que há um canal de diálogo aberto”, conclui Gabiati.
Marco Rubio
O chanceler americano Marco Rubio, é secretário de Estado dos Estados Unidos, e o escolhido por Trump para negociar a questão do tarifaço com Vieira.
Ele também já fez duras críticas ao Brasil, especialmente ao STF e ao ministro Alexandre de Moraes, acusando-os de censurar opositores, restringir a liberdade de expressão e perseguir politicamente Bolsonaro, a quem considera alvo de uma “caça às bruxas”.
Tarifaço
O "tarifaço" de 50% imposto pelo governo de Donald Trump a determinados produtos brasileiros entrou em vigor em 6 de agosto. Anteriormente, em abril, já haviam sido anunciadas as primeiras taxas de 10% para o Brasil e outras nações. Em julho, o presidente norte-americano formalizou o aumento do valor em uma carta enviada a Luiz Inácio Lula da Silva.
A imposição tarifária veio com uma exigência política: Trump vinculou a concretização de um acordo comercial com o governo de Lula ao cancelamento do processo judicial em curso no STF contra o ex-presidente Bolsonaro.