Após o Congresso Nacional deixar caducar a Medida Provisória (MP) nº 1303/2025, que era uma alternativa para não aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), e consequentemente gerar um rombo de R$ 35 bilhões aos cofres públicos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) exonerou mais de 300 funcionários no poder Executivo que foram apadrinhados por políticos de partidos do Centrão. As pessoas demitidas compunham cargos de segundo escalão dentro do governo e miram nos partidos União Brasil, PP, Republicanos, PSD e MDB.
Lula sinaliza que agora será necessária a demonstração de boa vontade dos membros filiados a partido do Centrão, assim como apoio dos parlamentares a pautas de interesse do governo, para a manutenção dos cargos. Ao Correio da Manhã, o consultor de Análise Política da BMJ Consultores Associados Érico Oyama reforçou que “a medida foi um movimento do governo para mostrar a parlamentares do Centrão que, sem retorno no Congresso, o espaço que eles ocupam no Executivo também será reduzido”.
Contudo, ele reiterou que isso não implica que o governo esteja fortalecido o suficiente para ficar independente do Congresso Nacional. “O governo segue dependente do Centrão para aprovar pautas estratégicas, uma vez que a base de apoio tem pouco mais de cem deputados”, destacou Oyama.
A reportagem ainda conversou com o cientista político Isaac Jordão, que segue a mesma linha de raciocínio: “Não vejo que o presidente esteja menos dependente do Centrão porque o governo continua dependendo dos votos para aprovar suas pautas no Congresso”, disse ao Correio da Manhã. Contudo, Jordão destacou que “na medida em que as eleições se aproximam, é natural da política que a movimentação no Congresso comece a diminuir gradativamente, o que diminui as chances de o governo tomar algum revés ou sofrer alguma derrota muito grave”.
Lira
Isaac Jordão ainda alerta para o fato de que, das pessoas demitidas até o momento, nenhum nome cortado fora apadrinhado pelo ex-presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL). “O governo usou da caneta para ‘revidar’ contra o Centrão e mostrar que ainda está no jogo. Chamo a atenção para o fato de os cargos do Arthur Lira não terem sido tocados. Isso dá para o governo um aliado objetivo em duas frentes. Primeiro, mostra que o governo não foge aos seus. Segundo, mantém Lira como fiador da articulação com o Centrão”, avaliou Jordão. Na mesma linha, também foram mantidos os apadrinhados do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
Dentre os nomes apadrinhados por Lira está o presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira. O cientista político ainda citou que, recentemente, o banco anunciou “uma expansão brutal em crédito imobiliário”, o que, na avaliação dele, pode levar a uma interpretação de que “além de não fugir aos seus, o governo ainda entrega”.
Retaliações
Questionado pela reportagem, Jordão considera que é possível os parlamentares do Congresso Nacional realizarem retaliações à decisão do governo, porém, ele avalia que “o momento político acaba jogando o equilíbrio para perto do poder Executivo, que vai para as eleições com a máquina pública na mão, um discurso alinhado contra o Centrão e com pesquisas que indicam uma melhora relevante da aprovação de Lula”.
“Isso faz com que o poder comparativo do Executivo seja cada vez maior frente ao Legislativo. O legislativo segue muito poderoso, mas seus membros estão em uma janela de tempo delicada para fazer apostas arriscadas”, disse Isaac.
Por outro lado, o consultor de Análise Política relembra que o Congresso ainda articula o PL da Anistia – que passou de um projeto de lei que concedia anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e passou a tramitar como uma projeto que reduz a dosimetria das penas dos envolvidos nos atos contra as sedes dos Três Poderes.
“Novas retaliações podem vir especialmente no PL da Anistia, cujo avanço depende do apoio de parlamentares de centro. Neste caso, o principal trunfo do governo é a manutenção da proximidade com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre [União Brasil-AP], que segue resistente ao PL da Anistia. As matérias de natureza econômica, especialmente as arrecadatórias, continuarão com o mesmo grau de complexidade desde o início do governo”, ponderou Érico Oyama.