Mesmo distante do país, na Itália, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu retaliar parlamentares do Centrão que votaram na semana passada contra a MP que tributava aplicações financeiras. O governo começou a exonerar apadrinhados desses parlamentares no segundo escalão e em outros postos, como a Caixa Econômica Federal (CEF).
A medida é uma resposta direta à derrota do governo federal na aprovação da Medida Provisória 1303/2025 que compensava a derrubada do aumento do Imposto sobre Importações Financeiras (IOF). O texto foi retirado de pauta em sessão no plenário da Câmara dos Deputados na última semana e, com isso, caducou (perdeu a validade). A equipe econômica do governo federal precisa agora se reorganizar para conseguir compensar o rombo de R$ 35 bilhões com a derrubada da MP. Diante disso, essas demissões ocorrem como uma retaliação direta do governo a partidos do Centrão, como União Brasil e PP.
Dentre as pessoas exoneradas que atingem diretamente líderes dos partidos estão, por exemplo, Lena Carolina Brandão do cargo de superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Maranhão. Ela é irmã do líder do União Brasil na Câmara, deputado Pedro Lucas (MA). Além dela, Harley Xavier Nascimento, indicação do deputado federal Arthur Maia (União-BA), foi exonerado da superintendência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), em Bom Jesus da Lapa (BA).
As demissões ainda alcançam cargos na Caixa Econômica Federal (mas sem atingir o presidente Carlos Vieira, indicado por Arthur Lira), no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e no Ministério da Agricultura.
Fome
Na Itália, Lula participa do Fórum Mundial da Alimentação, organizado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que acontece até esta sexta-feira (17), em Roma. O chefe de Estado brasileiro foi convidado para discursar no evento dois meses após o Brasil sair do mapa da fome. Nesta segunda-feira (13), em discurso, o presidente brasileiro reiterou que “o acesso a alimentos continua sendo um recurso de poder” e que não há como “dissociar a fome das desigualdades”.
“A fome é irmã da guerra, seja ela travada com armas e bombas ou com tarifas e subsídios. Conflitos armados, além do sofrimento humano e da destruição da infraestrutura, desorganizam cadeias de insumos e alimentos. Barreiras e políticas protecionistas de países ricos desestruturam a produção agrícola no mundo em desenvolvimento. Da tragédia em Gaza à paralisia da Organização Mundial do Comércio, a fome tornou-se sintoma do abandono das regras e instituições multilaterais”, defendeu Lula.
O brasileiro ainda reiterou que combater a fome deveria ser uma luta unida entre as nações e que é necessário incluir os mais vulneráveis economicamente nos orçamentos de cada país. “Não se trata de assistencialismo. É preciso colocar os pobres no orçamento e transformar esse objetivo em política de Estado, para evitar que avanços fiquem à mercê de crises ou marés políticas”, ele destacou.
Diante de demais chefes de Estado que compõem a FAO, Lula ainda declarou que não julga a fomo como um problema meramente econômico, mas, “sobretudo, um problema político”.
“Um país soberano é um país capaz de alimentar seu povo. A fome é inimiga da democracia e do pleno exercício da cidadania. É possível superá-la por meio da ação governamental. Mas governos só podem agir se dispuserem de meios. Por isso, ampliar o financiamento ao desenvolvimento, reduzir os custos de empréstimos, aperfeiçoar sistemas tributários e aliviar a dívida dos países mais pobres são medidas cruciais”, afirmou o brasileiro.
Papa
Horas antes de seu discurso na FAO, Lula se encontrou pela primeira vez com o Papa Leão XIV. De acordo com o presidente, eles conversaram sobre “religião, fé, o Brasil e os imensos desafios que temos que enfrentar no mundo”.
Lula ainda convidou o pontífice a visitar o Brasil e participar da 30ª edição da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP 30), que acontecerá em Belém (PA) de 10 de novembro a 21 de novembro. Leão XIV informou que não poderá participar, mas garantiu que terá representantes do Vaticano em Belém.