O secretário de Estado dos Estados Unidos (EUA), Marco Rubio, ligou para o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, convidando-o para uma visita a Washington para conversarem sobre “temas prioritários da relação entre o Brasil e os Estados Unidos”, segundo o Ministério de Relações Exteriores.
Dentre os temas, a expectativa é que o principal tópico discutido trate das tarifas de 50% determinadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump (Republicano), a produtos brasileiros. A ligação durou 15 minutos. O chanceler brasileiro aceitou o convite e a data para sua viagem deve ser confirmada nos próximos dias. A ligação foi confirmada pelo Itamaraty nesta quinta-feira (9).
“Na ocasião, após diálogo muito positivo sobre a agenda bilateral, acordaram que equipes de ambos os governos manterão reunião proximamente em Washington, em data a ser definida, para dar seguimento ao tratamento das questões econômico-comerciais entre os dois países, conforme definido pelos presidentes”, declarou o Itamaraty por meio de nota.
Da parte norte do continente americano, por meio de nota, o porta-voz do Departamento de Estado, Tommy Pigott, declarou que a conversa entre os representantes foi positiva.
“[O] secretário de Estado Marco Rubio manteve uma ligação positiva com o ministro de Relações Exteriores Mauro Vieira para coordenar os próximos passos seguindo a conversa de segunda-feira entre o presidente Donald J. Trump e o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Secretário Rubio e o ministro Vieira concordaram em se encontrar logo e estabelecer um mecanismo bilateral para avançar nos interesses econômicos mutuos e outras prioridades regionais”, diz a nota da Casa Branca.
A conversa entre Rubio e Vieira ocorreu na mesma semana em que os presidentes Donald Trump e o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversaram por videoconferência, na segunda (6), pela primeira vez desde as taxas aplicadas contra o Brasil – salvo um rápido encontro entre os chefes de Estado na Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
Análise
Ao Correio da Manhã, a advogada especialista em direito internacional Hanna Gomes avalia que as expectativas em torno das negociações entre Brasil e Estados Unidos para reverter ou amenizar o tarifaço são otimistas, porém, cautelosas e “dependem muito da continuidade da abertura do diálogo com os representantes americanos”.
“As autoridades brasileiras, como o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em contato com o Secretário de Comércio dos EUA e o chefe do USTR (Escritório Comercial americano), anunciam que o diálogo está caminhando em bons termos, sem explicar detalhes. Mas os principais objetivos do Brasil é reverter a tarifa e recuperar o espaço comercial perdido, já que os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com o argumento de que os Estados Unidos têm superávit comercial e que Trump foi mal informado ao impor a sobretaxa”, disse Gomes para a reportagem.
“A pressão para incluir mais produtos brasileiros nas listas de exceção à tarifa pode ser o norte do acordo, argumentando sobre o risco de inflação para o consumidor americano e o impacto nos grandes exportadores (como Minerva, JBS e Marfrig)”, ponderou a advogada.
Hanna Gomes ainda avaliou que, embora tenha se estabelecido o diálogo entre os países, os resultados não serão imediatos. “A expectativa é que o processo seja longo e se arraste por algum tempo. A CNI [Confederação Nacional da Indústria] estima que, caso o acordo avance, o Brasil poderia retomar mais de US$ 7 bilhões em exportações, recuperando competitividade e previsibilidade”, ela avaliou.
“Em resumo, a esperança é que os canais de negociação estabelecidos após os contatos de alto nível levem à revisão ou retirada das tarifas, especialmente nos setores com maior impacto econômico bilateral, embora o processo todo possa ser bastante delicado e desafiador para o Brasil”, completou a especialista em direito internacional.