Em meio a uma semana decisiva para o Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) intensificou reuniões com lideranças do Centrão na tentativa de garantir apoio à proposta que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais. Os encontros também serviram para tentar conter o avanço do processo de desembarque de partidos aliados.
Nesta terça-feira (1), Lula recebeu no Palácio da Alvorada o líder do Progressistas na Câmara dos Deputados, Dr. Luizinho (RJ), e representantes de movimentos e organizações sociais responsáveis por um plebiscito para ouvir a população brasileira sobre a isenção do IR, o fim da escala 6x1 e a taxação dos super-ricos. No mesmo dia, o líder do União Brasil na Câmara, Pedro Lucas Fernandes (MA), também era esperado, mas não compareceu.
A proposta de isenção é uma das principais vitrines do governo para 2026 e vem sendo usada estrategicamente para retomar a popularidade do presidente junto à classe média e aos trabalhadores formais. O relator da matéria, o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), realizou uma intensa articulação em busca de preservar um texto que agrade à base e preserve a responsabilidade fiscal.
Embora PP e União Brasil tenham anunciado o rompimento com o governo em setembro, há sinais de distensão. O ministro do Turismo, Celso Sabino (União Brasil-PA), chegou a entregar sua carta de demissão, mas ainda não foi exonerado. Ele, inclusive, deve acompanhar Lula em eventos oficiais da COP30, em Belém, nesta semana. Já o ministro do Esporte, André Fufuca (PP-MA), também está na rota de colisão. Interlocutores do Centrão revelaram ao Correio da Manhã que o prazo limite para deixar os cargos na Esplanada é o próximo domingo (5).
‘Sobrevivência’
Com um olho nas urnas de 2026 e outro nas contas públicas, Lula aposta no equilíbrio entre pragmatismo e popularidade para manter a governabilidade em um Congresso ainda dividido — mas disposto a negociar.
Em entrevista ao Correio da Manhã, o cientista político Elias Tavares avaliou que a tentativa de aproximação do chefe do Planalto com parlamentares ligados ao centro é “uma aproximação de sobrevivência”. Além disso, citou um ponto crucial: a federação União – PP é uma das que possuem mais espaço atualmente — tanto na montagem de um novo Congresso quanto numa disputa presidencial. Com 109 deputados e 15 senadores, a federação agora é a maior bancada da Câmara dos Deputados e a segunda maior do Senado.
“Hoje, o Centrão domina o Congresso Nacional e, sem ele, o governo não tem como avançar em pautas que são caras ao Planalto e, ao mesmo tempo, simpáticas aos parlamentares, como a reforma do Imposto de Renda. Essa é uma agenda que pode render louros para o governo, mas também para o Centrão, e justamente por isso há interesse dos dois lados em ver essa matéria evoluir”, explicou.
Para ele, a pressão sobre Sabino e Fufuca escancara o dilema desses partidos: “até onde é possível estar no governo sem perder identidade partidária?”. Ou seja, o Centrão tem interesse em recursos, cargos e visibilidade, mas também em preservar autonomia para negociar de forma mais livre.
“O que a gente vê, portanto, é um governo que tenta se equilibrar para manter a base, e um Centrão que joga no limite, participa quando é conveniente, pressiona quando necessário e, cada vez mais, busca manter o discurso de independência. É uma relação pragmática, mas instável. E isso mostra que a articulação política de Lula continua sendo mais um exercício de resistência do que de controle”, concluiu Tavares.