O presidente Lula da Silva afirmou, nesta sexta-feira (29), que a aplicação da Lei de Reciprocidade pelo Brasil é importante para tentar acelerar as negociações com os Estados Unidos sobre a tarifa de 50% imposta a produtos brasileiros. O petista, no entanto, afirmou que “não tem pressa”.
Na quinta-feira (28), Lula autorizou a aplicação da nova legislação, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada em abril, e a Câmara de Comércio Exterior (Camex) deu início ao processo que tem, entre suas etapas, a de notificar os Estados Unidos sobre a resposta brasileira à aplicação das tarifas.
“Eu não tenho pressa de fazer qualquer coisa com a reciprocidade contra os Estados Unidos. Tomei a medida porque eu tenho que andar o processo”, disse Lula em entrevista à Rádio Itatiaia, em Belo Horizonte.
A lei permite ao Brasil dar uma resposta a eventuais medidas unilaterais adotadas por outros países contra produtos brasileiros, como as sobretaxas adotadas pelos EUA.
“Se você for tentar andar na forma que todas as leis exigem, o comportamento da Organização Mundial do Comércio [OMC], das regras, você vai demorar um ano. Então, nós temos que começar, nós já entramos com o processo na Organização Mundial do Comércio. Nós temos que dizer para os Estados Unidos que nós temos coisas para fazer contra os Estados Unidos. Mas eu não tenho pressa, porque eu quero negociar”, afirmou.
O tarifaço imposto ao Brasil faz parte da nova política do governo de Donald Trump, que afeta parceiros comerciais como forma de tentar reverter a perda de competitividade dos Estados Unidos em relação à China nas últimas décadas.
Dentre todos os países afetados pelo tarifaço dos EUA, Brasil e Índia são os que enfrentam a maior taxação, de 50%.
Para justificar a alta tarifa, Trump tem usado o falso argumento de que seu país acumula déficit nas trocas comerciais contra o Brasil. Além disso, usa também como justificativa o que ele chama de “caça às bruxas” a Jair Bolsonaro (PL), em referência ao processo em que o ex-presidente é réu no Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado.
‘Lulinha paz e amor’
Na entrevista de hoje, Lula reafirmou a soberania do país e disse que se as autoridades norte-americanas quiserem “negociar sério com o Brasil” sobre as questões comerciais, “nós estaremos dispostos a negociar 24 horas por dia”. No entanto, ele argumentou que as autoridades brasileiras estão com pouco espaço de negociação nos Estados Unidos.
Lula lembrou que o vice-presidente Geraldo Alckmin lidera a missão de buscar um acordo com os EUA, junto com os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
“Até agora nós não conseguimos falar com ninguém [...]. Então eles não estão dispostos a negociar. Se o Trump quiser negociar, o Lulinha paz e amor está de volta”, disse Lula, afirmando que não vai telefonar para o presidente dos Estados Unidos.
“Não tentei ligar. Eu não tenho nenhum problema de falar com quem quer que seja, ele tem que dar um sinal de que quer negociar. Porque as pessoas falam para ligar para o Trump, mas se o secretário de Tesouro não falou com Haddad, se o Alckmin não conseguiu falar com o cidadão do comércio, porque as pessoas acham que o telefonema meu para o Trump iria resolver?”, argumentou Lula.