A aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) registrou queda em agosto, interrompendo a tendência de alta observada nos meses anteriores. É o que mostra a mais recente pesquisa AtlasIntel em parceria com a Bloomberg, divulgada nesta quinta-feira (28). A desaprovação ao governo ultrapassou novamente a casa dos 50% e, pela primeira vez desde 2024, superou a aprovação com folga além da margem de erro.
Segundo o levantamento, 51% dos entrevistados desaprovam o desempenho de Lula, enquanto 47,9% aprovam. Já 1% afirmou não saber ou preferiu não opinar. A diferença indica um cenário de desgaste consolidado, após meses de oscilação e leve recuperação na popularidade do presidente.
Piora
A pesquisa também revelou uma piora na avaliação do terceiro mandato do petista: 51,2% consideram o governo ruim ou péssimo, frente a 43,7% que o avaliam como ótimo ou bom. Apenas 5,1% classificaram a gestão como regular.
Os índices mais críticos à administração federal estão concentrados em determinados segmentos da população. Homens (57,4%), pessoas com ensino médio completo (57,4%) e indivíduos entre 25 e 34 anos (56,2%) estão entre os que mais desaprovam o governo. Entre os evangélicos, a rejeição atinge 72,7%.
Na avaliação pessoal do presidente como liderança política, 48% disseram ter uma imagem positiva de Lula, uma queda de três pontos percentuais em relação a julho. Já a imagem negativa subiu para 51%, ultrapassando a positiva pela primeira vez desde o final de 2024.
Economia
O cenário econômico tem se mostrado um dos principais fatores para a queda de popularidade. Para 53% dos brasileiros, a economia do país está em situação ruim, enquanto apenas 29% a consideram boa. Quando a pergunta se refere à economia doméstica, o sentimento também é predominantemente negativo: 38% acham a situação de suas famílias ruim, contra 33% que a classificam como boa. Em relação ao mercado de trabalho, 44% dos entrevistados avaliam o cenário como negativo, ante 38% que enxergam de forma positiva.
A inflação segue como uma preocupação central. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses até julho foi de 5,23%. A previsão do Banco Central, via Boletim Focus, é de que o índice feche 2025 em 4,86%, acima da meta oficial de 3%.
Eleição presidencial
A pesquisa também traçou um cenário hipotético para a eleição presidencial de 2026. Se o pleito fosse realizado hoje, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria 45,4% das intenções de voto, contra 44,6% de Lula, configurando empate técnico dentro da margem de erro de um ponto percentual. O político Ciro Gomes aparece em terceiro lugar com 3,7%, seguido pela ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, com 1,8%. Brancos, nulos e indecisos somam pouco mais de 3% do eleitorado.
O movimento registrado em agosto inverte a tendência observada até julho: enquanto Lula vinha em trajetória de crescimento nas pesquisas anteriores, agora apresenta recuo. Já Bolsonaro mostra ligeira recuperação, passando de 44,2% para 45,4% em um mês.
O levantamento AtlasIntel/Bloomberg foi realizado entre os dias 20 e 25 de agosto de 2025, com 6.238 entrevistas online em todo o país. A margem de erro é de 1 ponto percentual, com nível de confiança de 95%.
Recorte temporal
Em entrevista ao Correio da Manhã, o cientista político André Rosa ressaltou que a pesquisa, independentemente do momento em que é realizada, representa um recorte temporal. “Diversos fatores influenciam as respostas de um entrevistado a um questionário, incluindo aspectos emocionais e eventos de curto prazo que ocorrem no cotidiano”, disse.
Consequentemente, pode haver variações nos resultados de pesquisas realizadas em diferentes momentos, mesmo que próximas no tempo. “Tais variações não invalidam a pesquisa, mas indicam que os resultados podem ser impactados por eventos recentes, como a divulgação de notícias e a forma como estas são apresentadas e repercutidas, especialmente nas mídias sociais. A maneira como um fato é divulgado e a interação do público com ele podem influenciar as respostas dos eleitores em entrevistas, afetando a percepção sobre a popularidade de candidatos e a intenção de voto”, explicou Rosa.
Portanto, o especialista frisa que é fundamental enfatizar que as pesquisas não são determinantes, mas sim indicadores que podem orientar estratégias. “Mesmo pesquisas realizadas próximas às eleições podem apresentar resultados que se alteram. Considera-se que a pesquisa de boca de urna seja a fonte de informação mais próxima da realidade do eleitorado no momento da votação”, completou o cientista político à reportagem.