Por: Eline Sandes - BSB

'O que o Brasil pode ensinar à América', diz The Economist sobre julgamento de Bolsonaro

Capa da Econmist | Foto: Reprodução

Uma fotomontagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) estampa a capa da edição semanal da revista britânica The Economist, publicada nesta quinta-feira (28). Com a manchete 'O que o Brasil pode ensinar à América', a reportagem diz que o Brasil dá uma "lição de democracia", especialmente aos Estados Unidos, ao incriminar Bolsonaro pela tentativa de golpe de Estado e buscar reformas nos Três Poderes. 

A publicação da The Economist, uma das mais influentes do mundo, destaca que o julgamento iminente de Bolsonaro é "um caso de teste de como países podem se recuperar da febre populista", que é o avanço de líderes e movimentos que prometem soluções rápidas para problemas complexos, apoiados em forte apelo emocional. Nos últimos anos, países como Estados Unidos, Argentina, Hungria, França e Reino Unido também viveram momentos políticos marcados pelo populismo e por polarização política. 

'Trump dos trópicos'

Na capa da The Economist, Bolsonaro — que atualmente está em prisão domiciliar — foi retratado com o rosto pintado com as cores do Brasil e com um chapéu igual ao do "viking do Capitólio", figura emblemática da invasão ao Congresso norte-americano em 6 de janeiro de 2021 após a derrota de Trump para Joe Biden. O motim na capital dos EUA inspirou os ataques bolsonaristas nas sedes dos Três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro de 2023.

A capa da revista traz a ironia de comparar os destinos do 'viking', que saiu da prisão após receber indulto de Trump, e de Bolsonaro, que está em prisão domiciliar e começará a ser julgado na próxima semana por tentativa de golpe de Estado.

Na matéria em destaque, o ex-presidente é chamado de "Trump dos trópicos" e "polarizador". De acordo com a reportagem, Brasil e Estados Unidos "parecem estar trocando de lugar" e que, pelo menos temporariamente, o papel do adulto democrático do hemisfério ocidental mudou para o sul.

"A América está se tornando mais corrupta, protecionista e autoritária (...). Em contraste, mesmo com a gestão de Trump condenando o Brasil por processar Bolsonaro, o país, em si, está determinado a proteger e fortalecer sua democracia", diz o texto.

Reformas políticas são maturidade democrática

A revista explica como o passado recente da ditadura brasileira ainda ecoa na democracia do país e destaca o papel do Supremo Tribunal Federal (STF) como "baluarte contra o autoritarismo". A reportagem também menciona como o julgamento e a possível condenação do ex-presidente brasileiro apontam um "caminho para a frente" ao impulsionar reformas políticas, mesmo enfrentando obstáculos, como o presidente dos EUA, Donald Trump.

A revista britânica menciona medidas recentes adotadas pelo governo de Trump para proteger Bolsonaro e seus aliados, como as tarifas de 50% impostas a produtos importados do Brasil, e a aplicação da Lei Magnitsky — que aplica sanções financeiras a pessoas consideradas, pelos EUA, corruptas e violadoras de direitos humanos — ao ministro Alexandre de Moraes, do STF.

"Felizmente, a interferência de Trump provavelmente sairá pela culatra. Apenas 13% das exportações brasileiras vão aos Estados Unidos, e elas consistem majoritariamente em commodities, que podem ser redirecionadas a outros mercados (...). Por enquanto, os ataques de Trump apenas fortalecem a posição de Lula nas pesquisas de opinião, e dão a ele uma desculpa para enfrentar qualquer notícia econômica ruim antes das próximas eleições, em outubro de 2026", afirma o texto.

'Tensões inevitáveis'

A matéria conclui que os desdobramentos do julgamento de Bolsonaro e as mudanças políticas que devem seguir a decisão levarão a "tensões inevitáveis", porém que, ao contrário dos EUA, políticos de todos os partidos querem seguir as regras e progredir por meio de reformas. Para a revista britânica, essas são as marcas da maturidade política. 

Julgamento de Bolsonaro

O julgamento do núcleo central da tentativa de golpe de Estado começa na próxima terça-feira (2). O ex-presidente e outros sete réus são investigados por atuarem para desacreditar o sistema eleitoral, elaborar minutas de decretação de estado de sítio e pressionar as Forças Armadas a intervir, configurando ataques à democracia.

Durante as apurações, a Polícia Federal também identificou tentativas de obstrução do processo. O deputado Eduardo Bolsonaro (PL), filho do ex-presidente que está nos Estados Unidos desde março, é acusado de agir para intimidar testemunhas e manipular provas durante, o que teria atrasado o avanço do inquérito. 

Bolsonaro cumpre medidas cautelares desde 18 de julho, impostas por Alexandre de Moraes, como tornozeleira eletrônica e restrição ao uso de redes sociais. Em 4 de agosto, após descumprimentos, Moraes decretou a prisão domiciliar do ex-presidente, com visitas limitadas, apreensão de celulares e vigilância constante. Desde a terça (26), o ministro Alexandre de Moraes determinou o reforço do monitoramento policial 24 horas por dia na casa de Bolsonaro, no Jardim Botânico, região nobre de Brasília.