Por: Karoline Cavalcante

Lula sobre Trump: "Se gostasse de imperador, Brasil seria monarquia"

Lula e os ministros usaram bonés em defesa da soberania brasileira | Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comandou, na manhã desta terça-feira (26), a segunda reunião ministerial de 2025 no Palácio do Planalto. Em um encontro marcado por críticas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicano), e à família Bolsonaro, o petista reforçou a defesa da soberania nacional e exigiu engajamento dos ministros para as entregas previstas até 2026 — ano de eleições gerais no país.

Logo na abertura da reunião, Lula adotou um tom firme ao tratar das recentes sobretaxas impostas pela Casa Branca a produtos brasileiros. "Somos um país soberano. Temos uma Constituição, uma legislação, e quem quiser entrar nesses 8 milhões e meio de quilômetros quadrados, no nosso espaço aéreo, no nosso espaço marítimo, nas nossas florestas, tem que prestar contas à nossa Constituição e à nossa legislação. É assim que tem que ser para que possamos construir e fortalecer esse mundo democrático, multilateralista que o Brasil faz questão de defender”, iniciou.

“Estamos dispostos a sentar na mesa em igualdade de condições. O que não estamos dispostos é a sermos tratados como se fôssemos subalternos”, completou o presidente, que usava um boné azul com os dizeres: “O Brasil é dos brasileiros”. O gesto simbólico reforça a retórica do Executivo de reafirmar a autonomia nacional em meio a crescentes tensões diplomáticas. Em um discurso repleto de recados, Lula voltou a criticar Trump, chamando-o de “imperador do mundo”.

“Se a gente gostasse de imperador, o Brasil ainda seria uma monarquia”, afirmou.

Repúdio

As críticas mais incisivas, no entanto, foram direcionadas à família do ex-presidente Jair Bolsonaro, especialmente ao seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O chefe do Planalto o acusou de agir contra os interesses do país ao apoiar as medidas comerciais norte-americanas que prejudicam a economia brasileira. O presidente também classificou como “inaceitável” o comportamento do parlamentar, que atualmente reside nos Estados Unidos, e sugeriu que Eduardo já deveria ter sido expulso da Câmara. Para Lula, o deputado “adotou os EUA como pátria” e atua para alimentar “ódio contra o Brasil”.

Outro ponto sensível do discurso foi a revogação do visto estadunidense do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski.

Lula demonstrou solidariedade ao aliado e disse considerar o gesto um ataque direto à soberania brasileira.”É vergonhoso para eles, não para você", declarou, dirigindo-se ao ministro. “Essas atitudes são inaceitáveis, não só contra o Lewandowski, mas contra os ministros da Suprema Corte, contra qualquer personalidade brasileira”, prosseguiu.

Lula também voltou a criticar o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) pela inação diante da crise humanitária na Faixa de Gaza, que o presidente classificou como um “genocídio”. Ele defendeu uma reforma urgente na governança global para permitir intervenções efetivas em conflitos armados e violações de direitos humanos.

Prioridades

Após o discurso inicial, a reunião seguiu com apresentações dos principais ministros. Rui Costa (Casa Civil) fez um balanço das entregas da atual gestão, destacando a redução histórica da pobreza e do desemprego, a ampliação de programas sociais como o Pé de Meia e o Gás do Povo, e o avanço de obras estratégicas do Novo PAC. Segundo ele, o governo projeta executar R$ 1,3 trilhão até o fim de 2026.

Outros dados exibidos incluem o aumento dos investimentos em ferrovias, a expansão da energia gratuita, abastecimento de água e os recordes em obras de saneamento e infraestrutura urbana. Costa reforçou ainda a estratégia de colocar as pessoas no centro das políticas públicas.

Além disso, o governo estuda mecanismos para evitar surpresas no Congresso, como ocorreu com a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil está entre as prioridades legislativas para o segundo semestre.