Dias após se reunir com o presidente dos Estados Unidos (EUA), Donald Trump (Republicano), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, telefonou para o presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta segunda-feira (18), para contar sobre o que foi tratado com o norte-americano. Segundo nota oficial do Palácio do Planalto, na ligação, que durou 30 minutos, os dois chefes de Estados discutiram sobre caminhos para chegar ao fim da guerra entre Rússia a Ucrânia, que já dura mais de três anos.
“Após abordar os diversos temas discutidos com o presidente Trump, Putin reconheceu o envolvimento do Brasil com o Grupo de Amigos da Paz, iniciativa conjunta com a China. O presidente Lula agradeceu o telefonema e reafirmou o apoio do Brasil a todos os esforços que conduzam a uma solução pacífica para o conflito entre Rússia e Ucrânia. Desejou também sucesso às continuadas negociações”, afirmou o Planalto, por meio de nota.
Tarifaço
Apesar dos chefes de Estado não terem citado diretamente as tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros, o tarifaço é indiretamente é um assunto de fundo. Ao Correio da Manhã, a advogada especialista em direito internacional Hanna Gomes alertou que a ligação de Putin para Lula vai além das questões envolvendo a guerra com a Ucrânia.
“A ligação, de iniciativa de Putin, logo após a reunião com Trump, pode indicar um assunto além do conflito no leste europeu. A ligação pode ter sido instrumento de recado do próprio Trump para Lula, sendo Putin um intermediário da relação entre Brasil e EUA, considerando que ainda não houve contato entre Lula e Trump, após a crise do tarifaço”, destacou Hanna.
Ao longo desta semana, o presidente brasileiro planeja ligar para outros presidentes de países aliados para discutir sobre o tarifaço dos EUA a produtos brasileiros. A previsão é que ele telefone para os presidentes da Comissão Europeia, Úrsula Von der Leyen; da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer.
Ainda nesta segunda-feira o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reiterou que a diplomacia brasileira segue aberta para negociações e contato com os Estados Unidos. “O Brasil não está fechado, estamos procurando parcerias a todo instante com o mundo inteiro”, declarou o ministro durante participação no seminário “Brazil 2030: Fostering Growth, resilience and productivity”, organizado pelo Financial Times e o site de notícias financeiras CNBC, em São Paulo. Contudo, Haddad comentou que há “má vontade” dos EUA para avançar com as negociações.
Comércio
Para a reportagem, Hanna Gomes destacou que, mesmo com a guerra, “a relação econômica entre Brasil e Rússia também é um fator crucial para os países”. “O comércio bilateral se intensificou, o que torna a parceria ainda mais relevante para ambos os países, além de reforçar a alternativa geopolítica e econômica do BRICS, que conta com Brasil e Rússia”, reiterou a advogada.
A reportagem ainda conversou com o professor de Relações Internacionais do Ibmec Brasília Frederico Dias, o qual destacou que o Brasil não deixou de fazer negociações e investimentos comerciais com a Rússia, especialmente petróleo e fertilizantes. “Tudo isso interessa para o Brasil e [para o] Putin”, disse o professor. Ele reiterou que essa aproximação gera um custo para o Brasil.
“Cada vez mais países ocidentais percebem que o Brasil tem se aproximado por demais desse mundo não ocidental. O Brasil sempre teve isso na sua política externa, de não alinhamento e universalismo, é um dos grandes padrões da sua política externa. O Brasil pratica isso nesse momento, evita um alinhamento automático com os Estados Unidos ou com qualquer outra parte. Mas do ponto de vista de quem espera esse alinhamento automático pode parecer uma aproximação com uma parte que vai ser a principal competição dos Estados Unidos no século 21, senão no século 20: a China”, destacou Dias.