Por: Karoline Cavalcante

Lula deve divulgar plano de contingência nesta quarta

Lula ligou para Xi Jinping para discutir efeitos do tarifaço | Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

O plano de contingenciamento preparado pelo governo federal para mitigar os efeitos da sanção tarifária — imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros — sobre os setores mais impactados, deve ser divulgado nesta quarta-feira (13). A informação foi confirmada à imprensa pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, que anunciou novas reuniões ao longo do dia para embasar a decisão que será tomada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A expectativa é que a resposta do Palácio do Planalto inclua medidas emergenciais com foco em crédito e estímulo ao consumo via compras públicas.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, antecipou que o planejamento deverá ter impacto mínimo nas contas públicas e “vai ser única e exclusivamente no limite do necessário para não deixar nenhuma empresa para trás”.

“O Ministério da Indústria e Comércio está separando empresa por empresa dentro de cada setor. Por exemplo, setor de pescado é um dos mais atingidos. Mas nem todas as empresas serão beneficiadas. Tem empresa que não exporta, tem empresa que exporta, mas não pros Estados Unidos. E tem empresa que exporta pros Estados Unidos, mas já está redirecionando a sua produção. Então, estamos sendo criteriosos, até porque, é dinheiro público”, explicou em evento promovido pelo Senado Federal.

China

Diante do aumento das tensões comerciais lideradas pela Casa Branca contra o Brasil e outras nações, Lula telefonou para o presidente da China, Xi Jinping (PCCh), a fim de discutir o cenário internacional. Durante a conversa, que durou cerca de uma hora, os líderes reafirmaram a parceria estratégica entre os dois países e destacaram a importância da cooperação no atual contexto geopolítico.

O contato, realizado na noite de segunda-feira (11), ocorre em meio à decisão de Washington de elevar tarifas de importação em 50% sobre produtos brasileiros.

A medida, anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump (Republicano), foi justificada como resposta a supostos prejuízos financeiros e às empresas de tecnologia norte-americanas, além de desavenças políticas — como é o caso das críticas ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Brasil, atualmente réu no Supremo Tribunal Federal (STF), por suposta tentativa de golpe de Estado após a derrota nas eleições de 2022.

Em reação, o petista buscou estreitar os laços com o principal parceiro comercial do Brasil. Segundo a agência de notícias chinesa Xinhua, Xi Jinping destacou o desejo de consolidar um modelo de cooperação baseado em “unidade e autossuficiência” entre as principais nações do Sul Global. Para o líder asiático, é essencial resistir “resolutamente ao unilateralismo e ao protecionismo”.

Cooperação

A China reiterou seu apoio à soberania brasileira e aos interesses nacionais, posicionando-se como aliada num momento em que o Brasil sofre crescente pressão externa. Xi avaliou que os dois países vivem atualmente o “melhor momento histórico” de sua relação bilateral.

Além da conjuntura geopolítica, Lula e Xi também discutiram a importância de fóruns multilaterais como o G20 — grupo que reúne as maiores economias do mundo — e os Brics — bloco que reúne as principais economias emergentes — na promoção do diálogo internacional e na construção de consensos entre os membros. O presidente brasileiro ressaltou ainda a relevância da participação chinesa na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em novembro, em Belém (PA). Xi confirmou o envio de uma delegação de alto nível e reiterou o compromisso da China com o sucesso do evento.

Outro ponto abordado na conversa foi a ampliação da cooperação bilateral em áreas estratégicas. Os chefes de Estado celebraram avanços recentes na integração de seus planos nacionais de desenvolvimento e se comprometeram a expandir a parceria para setores como saúde, petróleo e gás, economia digital e satélites.

Outros países

Lula já havia se movimentado para aprofundar a cooperação bilateral com outros países. No último sábado (9), conversou por telefone com o presidente da Rússia, Vladimir Putin (RU), onde compartilharam informações a respeito de suas discussões em curso com os Estados Unidos e os recentes esforços pela paz entre Rússia e Ucrânia.

Já na quinta-feira passada (7), a ligação foi com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi (BJP). Na ocasião, o foco principal foi a importância do multilateralismo frente às ações unilaterais de países desenvolvidos, além da discussão sobre formas de aprofundar a cooperação bilateral. O contato entre os líderes ocorreu um dia após os EUA elevarem oficialmente para 50% as tarifas sobre produtos brasileiros — movimento similar ao aplicado à Índia, penalizada com a mesma alíquota por manter a importação de petróleo russo.

Estratégia

Ao Correio da Manhã, a advogada especialista em direito internacional Hanna Gomes, explicou que as ligações demonstram uma estratégia clara de diversificação e fortalecimento de alianças comerciais, que sinalizam que o Brasil está se movimentando para construir uma frente de resposta econômica e coletiva.

“Esses movimentos podem ser interpretados como uma forma de o Brasil se reposicionar no cenário geopolítico, buscando solidificar sua posição como um novo líder no comércio global, independentemente das pressões americanas. Ao aprofundar a cooperação com essas grandes economias emergentes, o Brasil também envia uma mensagem de que não será facilmente intimidado pelas políticas protecionistas americanas”, afirmou Gomes.

A advogada mencionou que a declaração feita no último sábado pelo vice-secretário do Departamento de Estado, Christopher Landau — que responsabilizou o ministro do STF, Alexandre de Moraes, pelo enfraquecimento das relações bilaterais —, adiciona uma camada de politização a essa crise, mas tem.efeito puramente político e diplomático.

“Ao direcionar a crítica a uma figura específica do Judiciário brasileiro, de forma incomum nas relações internacionais, vinculando as tarifas à supostas falhas democráticas no Brasil, o governo americano parece estar tentando desviar o foco do seu objetivo principal, que pode ser enfraquecer o Brasil, sob a liderança de Lula, perante a comunidade internacional, visando frear as mudanças propostas e já promovidas pelo Sul-Global”, acrescentou a especialista à reportagem.